sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Era da Incerteza # 1 - Os Profetas e a Promessa do Capitalismo Clássico

I - Os Profetas e a Promessa do Capitalismo Clássico

Numa da últimas páginas do seu último e mais famoso livro, John Maynard Keynes - geralmente considerado o economista deste século que mais influência exerceu - observou que "...as ideias dos economistas e filósofos políticos, tanto erradas como certas  são mais poderosas do que normalmente se julga. De facto, pouco mais do que elas guia o mundo. Os homens práticos que se consideram a si mesmos isentos de quaisquer influências intelectuais, são regra geral, escravos de um qualquer economista defunto". Isto foi escrito em 1935. E, ao pensar na oratória de Adolf Hitler, Joseph Goebbels e Julius Streicher, nessa altura na crista da onda, e de Alfred Rosenberg e Houston Stweart Chaberlain, a cujas páginas tinham ido beber as suas doutrinas raciais, acrescentou: "Os loucos e governam e ouvem vozes descidas dos céus, destilam a sua fúria de um antigo escriba académico". E a isto segue-se a afirmação: "Exagera-se muito o poder dos direitos adquiridos em comparação com a invasão gradual das ideias".

Keynes abre-nos caminho à análise das ideias que explicam o capitalismo moderno - ou o socialismo moderno - e que, consequentemente guiam as nossas ações. É óbvio que deveríamos conhecer aquilo que nos governa.

Assim é, embora Keynes exagerasse o seu ponto de vista. Na verdade, nas questões económicas, as decisões não sã apenas influenciadas por ideias e direitos económicos adquiridos; estão também submetidas à tirania das circunstâncias, igualmente severa. No debate político quotidiano, consideramos extremamente importante saber se um individuo é da direita ou da esquerda, liberal ou conservador, o representante da economia de mercado ou do socialismo. não reparamos que, frequentemente, as circunstâncias  impõem a todos a mesma ação - ou a todos os que lutam pela sobrevivência. Se se deve impedir a poluição do ar para podermos respirar, ou evitar o desemprego ou a inflação para demonstrar competência na gestão  económica, não há muita diferença entre aquilo que os conservadores, os liberais ou os sociais-democratas serão obrigados a fazer. as possibilidades de escolha são lamentavelmente reduzidas.

Também faríamos melhor em não fechar demasiado os olhos à ideia do direito adquirido. As pessoas têm uma tendência permanente para proteger aquilo que possuem, para justificar aquilo que querem  ter. E mostram-se propensas a achar certas as ideias que servem tais propósitos. As ideias podem ser superiores ao direito adquirido e são também, com frequência, fruto do direito adquirido.

John Kenneth Galbraith

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Autor do blog Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

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