quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A Monoparentalidade no Masculino


“Toda a doutrina social
Que vise destruir a família é má,
E para mais inaplicável.
Quando se decompõe uma sociedade,
O que se acha como resíduo final,
Não é o indivíduo, mas sim a família.”
Vítor Hugo
1 - Resumo
Nunca antes se viu uma tão grande alteração do modus vivendi das famílias, como nos tempos atuais, algo a que se chama comummente de novas famílias, começa a ganhar corpo e número na sociedade em que vivemos; por todo o mundo discute-se o casamento homossexual, a adoção de crianças por casais homossexuais, tanto lésbicas como gays está a atravessar todo o mundo com discussões parlamentares, o aumento dos divórcios como consequência da emancipação da mulher na sociedade, trouxe também o aumento exponencial das famílias reconstruídas, em que cada um dos cônjuges leva para o novo lar comum os filhos de um casamento anterior, os chamados "os teus, os meus e os nossos", com  este trabalho pretendemos mostrar o modelo familiar em crescimento na sociedade atual, trata-se das famílias monoparentias, formadas por um progenitor e seu filho ou filhos, surgido de motivos como a  viuvez ou divórcio, sendo a maioria formada por mulheres que criam os seus filhos sozinhas, surgem também famílias monoparentais formadas por homens que assumem a responsabilidade de criar os seus filhos sozinhos e tal como as mulheres nas mesmas circunstâncias  estes homens também têm de aprender a conciliar vida familiar e trabalho.
2 – A Monoparentalidade no masculino
Ao longo de milénios a família sofreu alterações profundas no âmbito sócioeconómico, com o advento da Revolução Industrial e o fim da Sociedade Agrícola, passa-se do padrão de família alargada, com funções e papeis definidos e determinadas por grau de parentesco e género, que eram culturalmente definido pelo meio social da época, onde havia quanto ao número de membros, um conjunto extenso formado por pai, mãe, vários filhos, parentes com consanguinidade e até empregados, passando a ser uma família nuclear  com número reduzido de filhos em convivência com pai e mãe (Hintz H. C. 2001).
Não obstante o que dominava ainda, do ponto de vista sócio cultural era uma hierarquização vertical da família, e no que toca ao poder dentro da família, havia o predomínio da liderança masculina, algo que nos dias atuais está a desaparecer lentamente, deixando de ser uma família hierarquicamente vertical para uma relação horizontal e de partilha de liderança com a mulher (Hintz H. C. 2001)
Não é de descartar o facto o modelo económico, que surgiu com a Revolução Industrial, tendo dado primazia à força física (indústria), através do homem (chefe de família e o mantenedor do lar) gera um aumento do preconceito de género, que foi exercido sobre o género feminino, ainda hoje esse preconceito é tanto maior quanto mais conservador for a sociedade onde vivam, como a Arábia Saudita onde as mulheres não podem conduzir, e o seu papel é meramente de cuidadora do Lar, mesmo no que se refere à sexualidade, o adultério era aceitável para os homens, e totalmente condenável para as mulheres que tinham de se manter fiéis aos maridos toda a vida.
O modelo acima referido, mostra que havia também um distanciamento entre pais e filhos com um grau de hierarquia elevado, modelo esse que se refletiu por muito tempo nas relações conjugais entre o marido como sendo o chefe de família e a mulher como a mãe educadora e cuidadora do Lar, ou por outras palavras há claramente um modelo de estereótipo (Hintz H. C. 2001), no qual as diferenças de género são mantidas com atribuições e funções específicas.
Com o evoluir do tempo, e sobretudo com a luta de várias mulheres sufragistas no inicio do século XX, algumas conquistas foram feitas, mas é sobretudo após a II Guerra Mundial, em que por falta de mão-de-obra masculina a mulher foi empregue nas fábricas e nos sérvios embora com ordenados inferiores ao que auferiam os homens, e assim foram conquistando lentamente o seu espaço, com a urgência de desenvolver a economia do pós-guerra, e com a emergência de uma nova mentalidade, mais liberal, vê-se nos anos 50 e 60 uma modificação de mentalidades face à liberdade sexual, e ainda com a pílula a possibilidade da mulher optar para controlar ou programar a natalidade ou ainda evitar uma gravidez segundo a sua vontade, o que veio a traduzir-se numa liberdade sexual para a mulher (Hintz H. C. 2001)
O que a segunda metade do século XX trouxe em termos de evolução da família foi o aparecimento das ditas “Novas Famílias” como as famílias monoparentais, famílias reconstituídas, casais não coabitantes, as uniões de facto, e mais recentemente o casamento homossexual.
No entanto eram tipos de famílias já existentes, mas encarados sob outro ponto de vista, sendo fundamentalmente as famílias monoparentais formadas por mães solteiras e viúvas, o mesmo com pais viúvos a cuidarem dos seus filhos, mas com tendência a um segundo casamento, o que vem a formar então as famílias reconstituídas.
Os tempos modernos que a sociedade da Informação, como lhe chama Alvin Toffler, trás significativas mudanças no modos vivendi das famílias e consequências no relacionamento entre os cônjuges e entre os pais e filhos, trata-se do apogeu da televisão, da infomática, e da mudança face aos tempos de convívio e diálogo entre a família, outro fator é a necessidade de homens e mulheres repartirem as tarefas referentes às rotinas diárias do dia a dia da família, havendo um maior aumento da impaciência e exigência entre os casais que degenera muitas vezes no divórcio, fator que tem vindo a crescer exponencialmente dos anos 60 para cá, sobretudo a alteração que se observa no status da mulher, que passou a ser maioritária no ensino superior, e não raras vezes a mulher aufere devido a isso, ordenados superiores ao seu cônjuge (Hintz H. C. 2001).
Mas o que importa salientar é que com os divórcios têm vindo também a aumentar, é notório o aparecimento cada vez mais comum de famílias monoparentais, onde um dos cônjuges fica a viver com os seus filhos, havendo também o aumento simultâneo de famílias reconstruídas, e dos famosos filhos “os meus, os teus e os nossos”.
3 – Conclusão
Segundo dados fornecidos pela PORDATA, em 2011, que afirma ser de 53.766 o número de famílias monoparentais masculinas, ou seja em que o Pai é que fica com um ou mais filhos a cargo.
Esta tendência tem também um fator importante, no sentido de agora serem também os homens a ter de conciliar trabalho e família nas suas prioridades, e tido como uma novidade contemporânea os pais assumirem e quererem de facto assumir a responsabilidade de criar os seus filhos, claro está que a maioria das famílias monoparentais é feminina, ou em que a mulher é que fica com a guarda dos filhos.
Os pais nas famílias monoparentais tem ainda muitas barreiras para vencer, nomeadamente o preconceito que é sentido, e por uma mentalidade ainda machista, que resiste em alguns setores da sociedade, no entanto, há algo de positivo, que é uma nova cultura de género, criada por estes homens e seus filhos, baseada numa filosofia fundamentalmente humanista e de cidadania, através de uma educação inclusiva no seio da família.
4 – Bibliografia e Infografia
A bibliografia fundamental adotada para este trabalho foi entre outros o "Mulheres em Dupla Jornada - A conciliação entre trabalho e família" da Professora Maria José Silveira Núncio, no entanto, para este capítulo especifico do trabalho foram utilizados outros trabalhos académicos, consulta de dados estatísticos do INE Instituto Nacional de Estatísticas e também da PORDATA, além de consultas de jornais como abaixo se segue:
Hintz, Ana Bela (2001) “Novos tempos, novas famílias?” “Pensando Famílias”, Porto Alegre, Brasil
Pordata, Dados estatísticos sobre as famílias monoparentais por sexo.
http://www.pordata.pt/Portugal/Agregados+domesticos+privados+monoparentais consultado dia 12/12/2012
Diário de Notícias, Ferreira, Ana Bela,(11/07/2010)  43 mil homens criam filhos sozinhos, Diários de Notícias, http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1615577 consulado dia 12/12/2012


Trabalho de Grupo de “Políticas da Família”
Professora Doutora Maria José da Silveira Núncio

Curso de Serviço Social – 3º Ano – Pós Laboral



Autor Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

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