“Toda a doutrina social
Que vise destruir a família é má,
E para mais inaplicável.
Quando se decompõe uma sociedade,
O que se acha como resíduo final,
Não é o indivíduo, mas sim a família.”
Vítor
Hugo
1 - Resumo
Nunca antes se viu uma tão grande alteração do modus vivendi das famílias, como nos tempos atuais, algo a que se
chama comummente de novas famílias, começa a ganhar corpo e número na sociedade
em que vivemos; por todo o mundo discute-se o casamento homossexual, a adoção
de crianças por casais homossexuais, tanto lésbicas como gays está a atravessar
todo o mundo com discussões parlamentares, o aumento dos divórcios como
consequência da emancipação da mulher na sociedade, trouxe também o aumento
exponencial das famílias reconstruídas, em que cada um dos cônjuges leva para o
novo lar comum os filhos de um casamento anterior, os chamados "os teus,
os meus e os nossos", com este trabalho pretendemos mostrar o modelo
familiar em crescimento na sociedade atual, trata-se das famílias
monoparentias, formadas por um progenitor e seu filho ou filhos, surgido de
motivos como a viuvez ou divórcio, sendo a maioria formada por mulheres
que criam os seus filhos sozinhas, surgem também famílias monoparentais
formadas por homens que assumem a responsabilidade de criar os seus filhos
sozinhos e tal como as mulheres nas mesmas circunstâncias estes homens
também têm de aprender a conciliar vida familiar e trabalho.
2 – A Monoparentalidade no masculino
Ao longo de milénios a família sofreu alterações profundas no âmbito sócioeconómico,
com o advento da Revolução Industrial e o fim da Sociedade Agrícola, passa-se
do padrão de família alargada, com funções e papeis definidos e determinadas
por grau de parentesco e género, que eram culturalmente definido pelo meio
social da época, onde havia quanto ao número de membros, um conjunto extenso
formado por pai, mãe, vários filhos, parentes com consanguinidade e até
empregados, passando a ser uma família nuclear com número reduzido de
filhos em convivência com pai e mãe (Hintz H. C. 2001).
Não obstante o que dominava ainda, do ponto de vista sócio cultural era uma
hierarquização vertical da família, e no que toca ao poder dentro da família,
havia o predomínio da liderança masculina, algo que nos dias atuais está a
desaparecer lentamente, deixando de ser uma família hierarquicamente vertical
para uma relação horizontal e de partilha de liderança com a mulher (Hintz H.
C. 2001)
Não é de descartar o facto o modelo económico, que surgiu com a Revolução
Industrial, tendo dado primazia à força física (indústria), através do homem
(chefe de família e o mantenedor do lar) gera um aumento do preconceito de
género, que foi exercido sobre o género feminino, ainda hoje esse preconceito é
tanto maior quanto mais conservador for a sociedade onde vivam, como a Arábia
Saudita onde as mulheres não podem conduzir, e o seu papel é meramente de
cuidadora do Lar, mesmo no que se refere à sexualidade, o adultério era
aceitável para os homens, e totalmente condenável para as mulheres que tinham
de se manter fiéis aos maridos toda a vida.
O modelo acima referido, mostra que havia também um distanciamento entre
pais e filhos com um grau de hierarquia elevado, modelo esse que se refletiu por
muito tempo nas relações conjugais entre o marido como sendo o chefe de família
e a mulher como a mãe educadora e cuidadora do Lar, ou por outras palavras há
claramente um modelo de estereótipo (Hintz H. C. 2001), no qual as diferenças
de género são mantidas com atribuições e funções específicas.
Com o evoluir do tempo, e sobretudo com a luta de várias mulheres
sufragistas no inicio do século XX, algumas conquistas foram feitas, mas é
sobretudo após a II Guerra Mundial, em que por falta de mão-de-obra masculina a
mulher foi empregue nas fábricas e nos sérvios embora com ordenados inferiores
ao que auferiam os homens, e assim foram conquistando lentamente o seu espaço,
com a urgência de desenvolver a economia do pós-guerra, e com a emergência de
uma nova mentalidade, mais liberal, vê-se nos anos 50 e 60 uma modificação de
mentalidades face à liberdade sexual, e ainda com a pílula a possibilidade da
mulher optar para controlar ou programar a natalidade ou ainda evitar uma
gravidez segundo a sua vontade, o que veio a traduzir-se numa liberdade sexual para
a mulher (Hintz H. C. 2001)
O que a segunda metade do século XX trouxe em termos de evolução da família
foi o aparecimento das ditas “Novas Famílias” como as famílias monoparentais,
famílias reconstituídas, casais não coabitantes, as uniões de facto, e mais
recentemente o casamento homossexual.
No entanto eram tipos de famílias já existentes, mas encarados sob outro
ponto de vista, sendo fundamentalmente as famílias monoparentais formadas por
mães solteiras e viúvas, o mesmo com pais viúvos a cuidarem dos seus filhos,
mas com tendência a um segundo casamento, o que vem a formar então as famílias
reconstituídas.
Os tempos modernos que a sociedade da Informação, como lhe chama Alvin
Toffler, trás significativas mudanças no modos vivendi das famílias e
consequências no relacionamento entre os cônjuges e entre os pais e filhos,
trata-se do apogeu da televisão, da infomática, e da mudança face aos tempos de
convívio e diálogo entre a família, outro fator é a necessidade de homens e
mulheres repartirem as tarefas referentes às rotinas diárias do dia a dia da
família, havendo um maior aumento da impaciência e exigência entre os casais
que degenera muitas vezes no divórcio, fator que tem vindo a crescer
exponencialmente dos anos 60 para cá, sobretudo a alteração que se observa no
status da mulher, que passou a ser maioritária no ensino superior, e não raras
vezes a mulher aufere devido a isso, ordenados superiores ao seu cônjuge (Hintz
H. C. 2001).
Mas o que importa salientar é que com os divórcios têm vindo também a
aumentar, é notório o aparecimento cada vez mais comum de famílias
monoparentais, onde um dos cônjuges fica a viver com os seus filhos, havendo
também o aumento simultâneo de famílias reconstruídas, e dos famosos filhos “os
meus, os teus e os nossos”.
3 – Conclusão
Segundo dados fornecidos pela PORDATA, em 2011, que afirma ser de 53.766 o
número de famílias monoparentais masculinas, ou seja em que o Pai é que fica
com um ou mais filhos a cargo.
Esta tendência tem também um fator importante, no sentido de agora serem
também os homens a ter de conciliar trabalho e família nas suas prioridades, e
tido como uma novidade contemporânea os pais assumirem e quererem de facto
assumir a responsabilidade de criar os seus filhos, claro está que a maioria
das famílias monoparentais é feminina, ou em que a mulher é que fica com a
guarda dos filhos.
Os pais nas famílias monoparentais tem ainda muitas barreiras para vencer,
nomeadamente o preconceito que é sentido, e por uma mentalidade ainda machista,
que resiste em alguns setores da sociedade, no entanto, há algo de positivo,
que é uma nova cultura de género, criada por estes homens e seus filhos,
baseada numa filosofia fundamentalmente humanista e de cidadania, através de
uma educação inclusiva no seio da família.
4 – Bibliografia e Infografia
A bibliografia fundamental adotada para este trabalho foi entre outros o
"Mulheres em
Dupla Jornada -
A conciliação entre trabalho e família" da Professora Maria José Silveira
Núncio, no entanto, para este capítulo especifico do trabalho foram utilizados
outros trabalhos académicos, consulta de dados estatísticos do INE Instituto
Nacional de Estatísticas e também da PORDATA, além de consultas de jornais como
abaixo se segue:
Hintz, Ana Bela (2001)
“Novos tempos, novas famílias?” “Pensando Famílias”, Porto Alegre, Brasil
Pordata, Dados estatísticos sobre as famílias monoparentais por sexo.
http://www.pordata.pt/Portugal/Agregados+domesticos+privados+monoparentais
consultado dia 12/12/2012
Diário de Notícias, Ferreira, Ana Bela,(11/07/2010) 43 mil homens criam filhos
sozinhos, Diários de Notícias,
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1615577 consulado dia
12/12/2012
Trabalho de Grupo
de “Políticas da Família”
Professora Doutora
Maria José da Silveira Núncio
Curso de Serviço
Social – 3º Ano – Pós Laboral
Autor Filipe de Freitas Leal
Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.