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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Era da Incerteza # 1.2 - A Paisagem

1.2 - A Paisagem

Os economistas têm periodicamente tentado descrever o sistema económico para os leigos, como se se tratasse de uma máquina. A matéria-prima alimenta-a; os trabalhadores põe-na em movimento; os capitalistas possuem-na; o Estado, os donos da terra, os capitalistas e os trabalhadores partilham o seu produto, geralmente de uma forma clamorosamente desigual. A impressão seria melhor se se pensasse num mundo económico como uma paisagem. Antes da Revolução Industrial, esse mundo era fundamentalmente agrícola  Os batalhadores empregavam-se, na maior parte, na agricultura. Rendimento e poder, duas coisas que geralmente andam juntas, eram expressas pelo tamanho e magnificência das habitações onde as pessoas viviam; as dos trabalhadores rurais eram muitas e sórdidas, A abundância de mão-de-obra e a relativa escassez da terra favoreciam o proprietário, tal como a tradição, a posição social, as leis e a educação. A casa do dono da terra refletia esse statu privilegiado.

O Estado, por sua vez, exercia outro domínio  primordial, tanto sobre o dono da terra como sobre o trabalhador. O poder descia do governante para o dono da terra e deste para o trabalhador. À medida que o poder percorria os sucessivos escalões, o rendimento aumentava. É uma lei que convém lembrar. O rendimento flui quase sempre ao longo do mesmo eixo que o poder. mas na direção oposta.

Nem o poder estatal nem o dos possuidores da terra era absoluto. Na Inglaterra, por altura da Revolução Industrial, tanto graças à lei como à tradição, os rendeiros e os próprios trabalhadores rurais dispunham de algumas defesas mínimas contra o poder dos seus senhores. Havia leis reguladoras das suas indemnizações e expulsões que tinham de ser respeitadas. E em Runnymede, em 1215, uma grande assembleia tinha selado um compromisso histórico com a liberdade humana, de particular incidência na fixação rigorosa dos direitos da propriedade imobiliária. Em consequência disso, a posição dos grandes proprietários da terra ficou substancialmente protegida contra as incursões do rei. Contudo, a Inglaterra era um caso ímpar, Em França, os camponeses estavam muito menos protegidos contra os seus senhores; tanto os que não possuíam terras como aqueles que as tinham, eram muito mais vulneráveis às exigências do rei cada vez mais insistentes. E o mesmo se passava no resto da Europa, agravando-se à medida que se penetrava no Oriente e na Ásia. Na Índia, no longínquo domínio dos Mongóis - em cujas cortes deslumbrantes do século XVII europeus artística e arquitetónicamente mais primitivos tinha começado a abrir o seu caminho - toda a terra era considerada como uma grande plantação pertencente ao Grão-Mongol.

John Kenneth Galbraith
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Autor do blog Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

A Era da Incerteza # 1.1 A Origem

1.1 - A Origem

As ideias que explicam a moderna vida económica tomaram forma durante um longo período de tempo, tal como as constituições económicas que procuram explicar. Mas há um ponto em que todos concordam e pelo qual poderemos começar. Na última metade do século XVIII a vida económica na Grã-Bretanha e, em menor escala, em toda a Europa Ocidental e, logo a seguir, na Nova Inglaterra, foi transformada por uma sucessão de invenções mecânicas - a máquina a vapor e uma série de inovações notáveis na indústria têxtil: a lançadeira volante (que apareceu mais cedo), logo de seguida da máquina de fiação para oito fios, depois a fiadeira movida a água, a fiadeira automática aperfeiçoada e, finalmente, o tear mecânico.

A roupa era (como continua a ser) instrumento fundamental de ostentação da gente rica e uma utilidade que o pobre não podia dispensar.

A fiação manual e a tecelagem eram processos infinitamente lentos e caros; a compra, por um cidadão da classe média, de um casaco, era comparável nos tempos modernos ao de um automóvel ou até mesmo de uma casa. As novas máquinas tiraram ao fabrico dos tecidos o seu caráter familiar, transferiram-no para as fábrica e tornaram o produto barato - um artigo de consumo de massa.

Com a Revolução Têxtil, surgiu uma tendência generalizada para as modificações técnicas, e de grande confiança e orgulho nos seus resultados. foi uma coisa parecida com a eclosão  de confiança na tecnologia e nas suas maravilhas que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. No entanto, a Revolução Industrial arrastou outra revolução no pensamento económico.

Estas ideias continham indícios do mundo futuro, mas eram também - pormenor importante - profundamente influenciadas pelo mundo até então existente, praticamente o mundo da agricultura. Nem poderia ser de outra forma. Até aí, à vida económica, com exceção de um pequeníssimo número de privilegiados, apenas se pedia que fornecesse a cada um e à sua família três coisas - comida, roupa e abrigo. Tudo isto provinha da terra. A comida em primeiro lugar, claro. E as peles, a lá e as fibras vegetais. Quanto às casas, tal como eram então provinham da floresta, da pedreira, ou do forno do tijolo mais próximos  Até à Revolução Industrial, e ainda depois dela, durante muito tempo em muitos países, toda a economia era agrícola.

John Kenneth Galbraith
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Autor do blog Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

 
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