Introdução
O presente trabalho, tem como
objetivo desenvolver os conceitos e as Teorias Sociológicas a serem aplicadas
no “Projeto de Dissertação”, que por sua vez, está assente na proposta de
investigação sobre o Desemprego de Longa Duração (DLD), em particular na
população adulta, no que concerne à compreensão das causas e das consequências
do fenómeno, tais como o empobrecimento e de Exclusão Social.
No sentido de prosseguir estes
objetivos, que são o de estudar as teorias sociológicas sobre o tema,
nomeadamente para o presente trabalho, obtive a orientação do docente, que me
orientou a desenvolver uma recensão critica, e para tal indicou-me o livro ‘Uma
História o Desemprego – Da antiguidade aos nossos dias’, obra de Yves
Zobberman, autor francês nascido em 1953 em Paris, que experimentou na própria
pele a situação de desemprego durante algum tempo; muito pouco é exposto sobre
a biografia do autor, sabe-se que é formado em Relações Internacionais, sendo
diplomata e adido para assuntos culturais e sociais, é também conferencista, e
no livro que agora analisamos com uma recensão, Zoberman realizou um excelente
trabalho de documentação histórica, bem como uma profunda análise social do
desemprego e de inúmeras questões que estão associadas a este fenómeno social.
Não poderia deixar de procurar
também referências bibliográficas, que pudessem permitir uma comparação à realidade
nacional, precisamente um livro de Ana Paula Marques, intitulado ‘Trajetórias
Quebradas – A vivência do Desemprego de Longa Duração’, que vai também muito,
ao encontro do que pretende ser o tema que irei desenvolver na dissertação
deste mestrado, que é o Estudo do Desemprego de Longa Duração na população
adulta na Freguesia de Moscavide em Loures; todavia, não limitei a bibliografia
a este livro, procurei saber o que dizem outros autores sobre o tema em
epígrafe.
Outros autores que foram
consultados, ou que irei consultar melhor para a dissertação, permitiram uma
maior visão de conjunto, e assim transformar este trabalho, num instrumento
conceptual para a dissertação acima referida, e ir além no intuito de procurar
contactos que em breve sejam importantes para entrevistas preparatórias e
recolha de dados. Autores esses que sendo da sociologia, são de diferentes
correntes sociológicas, como Zygmuntd Bauman, Anthony Giddens e por fim Richard
Sennet.
O presente trabalho, está
estruturado em três partes, a recensão do livro de Yves Zoberman, a
contextualização da realidade portuguesa, e por fim uma conclusão. Pelo que espero
poder ter ao longo deste trabalho, quer pela parte da análise histórica da obra
de Zoberman, quer do Estudo empírico desenvolvido por Ana Paula Marques, e as
obras conceituados sociólogos acima referidas, obter assim, uma clarificação
sobre conceito e/ou conceitos de desemprego em particular do Desemprego de
Longa Duração, que como o autor refere, é o desemprego típico da Pós-modernidade, pela força das mudanças
tecnológicas por um lado, e simultaneamente com a modificação dos modos de
gestão numa economia globalizada e competitiva.
O que pude observar na análise
primária dos livros utilizados, bem como na pesquisa de dados sobre o
desemprego, obtidos em informação jornalística recente, é que, não se trata
apenas do contingente de uma massa de desempregados que sobe, não é apenas o
tempo de permanência nessa situação que aumenta, mas é também a situação da
previdência social que vacila, e obriga a alterações legislativas para
flexibilizar os contratos de trabalho, e simultaneamente o de tentar manter a sustentabilidade
dos sistemas de Proteção Social (Zoberman 2015).
Palavras-Chave: Desemprego, Desempregados, Exclusão Social, Desemprego de Longa-duração, Empobrecimento e Envelhecimento.
1 – O
Desemprego como ociosidade ao longo da história
Zobberman traz-nos no seu livro,
logo na introdução, e de forma inequívoca, a informação de que o Desemprego
sempre existiu, todavia, não havia o conceito social de desemprego, mas antes
de ócio, e sempre com um significado negativo, mas vai mais longe, parte mesmo
dos conceitos de trabalho a partir dos textos sagrados da traição
judaico-cristã e que se cimentaram de forma perene na cultura europeia
ocidental até aos dias de hoje.
Ainda na introdução, refere que o
desemprego tal como o concebemos hoje foi criado a partir do fim do século XIX,
tornando-o uma categoria associada à sociedade industrial, conceito esse que
veio a permitir instrumentalizar o desemprego, que passara a ser também objeto
de retórica política, bem como de politicas sociais para o mitigar, sobretudo a
partir do Relatório Beveridge em 1942, que foi o marco de lançamento para o
“Estado Providência” no Reino Unido, William Beveridge propôs um imposto para
que com esse valor se pudesse amparar desde viúvas a órfãos, mas também tinha
como foco a situação dos desempregados.
Foi a industrialização, que há mais
de um século e meio, veio a nos permitir desenvolver o conceito de desemprego e
de desempregado até então inexistente, mesmo que já existisse de facto, a ideia
que de forma negativa estava associada a essa condição era a ociosidade, tal
ideia permaneceu na mentalidade de várias épocas no passado até mesmo aos
meados do século XX, o que por outras palavras pode-se aferir, que se trata de
um constructo social (Demazière, 2008).
Zoberman refere que foi aliás a
luta contra a ociosidade (o modo como eram vistos os desempregados, os
inválidos e os judeus na Alemanha Nazi) que levou a que se escrevesse no portão
de vários campos de concentração a frase: Arbeit macht frei, O trabalho
liberta, mesmo que que trabalhos forçados se tratasse (a realidade dessa época
e do seu ideal não ficará esquecida).
A “Ociosidade” na visão Judaico-cristã
No primeiro capítulo, o autor
revela no texto que a Torá judaica (equivalente aos cinco primeiros livros da
Bíblia, denominados de Pentateuco pelos cristãos), começa por mostrar o Deus
que trabalha, o Criador, que tendo trabalhado do primeiro dia até ao sexto dia
da criação, descansa ao sétimo, consagrando o Sábado como dia de descanso obrigatório
para todos. Em várias partes dos textos sagrados, o ócio é condenado e o
trabalho valorizado, mas refere ainda a situação dos escravos hebreus no Egito,
onde o texto da Torá condena veementemente a escravidão, e mostra o zelo que
Deus tem para com o povo hebreu (Zoberman, 2011, 27-32pp). Os cristãos não
ficaram atrás, na Carta de Tiago aos apóstolos, refere que o ócio (desemprego) é
uma maldição que não pode ser aceite de nenhum modo.
Apesar de condenar-se o ócio, a
solidariedade e a justiça social, estão presentes pela exortação da caridade
para com os pobres ao longo de todo o texto bíblico, quer da Tanach judaica
quer do Novo Testamento cristão.
A Ociosidade na Antiguidade Greco-Romana
Na Grécia Antiga, a diferença de
classes ricas e pobres, fazia-se através da distinção entre os donos das terras
e os que nelas trabalhavam, tendo como modelo o movimento de redistribuição da
riqueza pela posse de terras, a eliminação de dividas e a libertação de
escravos, em meio a este triangulo socioeconómico de distribuição da riqueza
encontravam-se os pobres (pessoas livres, mas sem posses e sem trabalho) que
eram vistos como ociosos, visto que o conceito de desemprego não existia ainda.
(Zoberman 2011, 37 pp)
Na Civilização romana, o ócio foi
combatido veementemente, e aparece na obra de Hesíodo, em “Os Trabalhos e os
Dias”, que exprime o receio da ociosidade para o homem, onde refere que a fome
é sempre uma permanente companheira dos preguiçosos, e dá ênfase ao dizer que
os deuses e os mortais odeiam os todos os que vivem na ociosidade e na
preguiça, e o filósofo Aristóteles também critica o ócio, chegou a afirmar que
o “labor” dos homens livre é diferente do labor dos escravos, porque não vive
sob sujeição de outros (Zoberman, 38-39 pp), logo podemos aferir que na visão
grega, mas também romana, como veremos a seguir, era o trabalho que é em si a
condição de um homem livre, não o ócio.
A mendicidade é à semelhança do
ócio um mal a combater na cultura greco-romana, sendo ambas fruto do que
denominam a preguiça, a mendicidade era tida como um ócio voluntário, utilizado
como profissão, modo de sobrevivência e ao mesmo tempo recusa em aceitar um
trabalho digno, havia portanto uma visão da “utilidade social do homem pelo seu
trabalho, (Zoberman 2011, 45 pp) por outras palavras, o trabalho como meio de
serviço à comunidade, ao bem-comum. Em detrimento da ociosidade como egoísmo.
O texto de Zoberman, revela a
peculiaridade do modo como a ociosidade foi vista, totalmente alienada de uma
realidade socioeconómica da época, não obstante, a pouco e pouco surge a
consciência de ajudar os que não tinham trabalho, surgem em primeiro lugar os
“Donativos” na Grécia antiga, cujo termo era “evergentismo” e mais não
era que um imposto dos ricos para a Cidade Estado, sendo sinal de autoridade
política e tributária, não ainda de justiça social. Segue-se em Roma o exemplo
de Caio Graco Séc. II AEC, em que reconhecem a importância de alimentar os
pobres dando-lhe terras para cultivarem. O autor frisa ainda o facto de que excluindo
os escravos, cujo trabalho era impositivo sob ordens determinadas, tanto em
Roma como no Império Romano, ignora-se ter havido ou não a possibilidade de
obrigar ao trabalho a “plebe” (pessoas pobres e livres).
A Idade Média –
Os Sem Ocupação
O autor, lembra-nos que após a
queda do Império Romano pelas invasões bárbaras, a organização social faz-se
através de um modo de vida rural, todavia, mantendo o Direito romano, tendo
sido vincado o papel da Igreja na organização social nos campos. Surge no
entanto, a designação pejorativa de “Os Sem Ocupação” em substituição ao termo
antigo de “ociosos”, mas de igual forma uma preocupação a ser combatida, como
se estar sem ocupação fosse por culpa própria e por mera opção.
Ainda na Idade média, surgiram nas
paróquias inglesas os ‘Openfields’ (campos abertos) como um sistema de
Terra Comum para, tal como bens comunais, para a produção agrícola para
subsistência aos camponeses pobres, campos onde também se pastoreava o gado, e
utilizar madeira das árvores para construir as suas habitações, e ainda o uso
da turfa para o aquecimento. (Zoberman 2011, 51 pp), Em Inglaterra no tempo de
Henrique III, surgem mais tarde os ‘enclosures’, que são os
‘cercamentos’ campos que foram divididos por cercas pelos lordes e cujo uso
passou a ser exclusivamente privado, considerada uma forma moderna de
agricultura, onde os campos e os carneiros eram explorados de modo intensivo,
passando a ser este um princípio da lei consuetudinária inglesa voltada para o
direito de propriedade privada.
A situação acima ilustrada, foi
referida por Thomas More na sua obra “A
Utopia” em que ele criticava a situação, ao usar a imagem dos doces
carneiros, que na verdade tornaram-se vorazes por cobrirem todo o solo de Inglaterra
“devoram homens e despovoam os campos”, e o êxito de uma agricultura
intensiva para a época, gerou uma enorme horda de agricultores errantes e
“vagabundos”, traduzindo-se sem que eles soubessem em desempregados, só faltava
o termo e o conceito, que é patente nos dias de hoje.
Chegados ao século XIV, na visita
histórica das origens do Desemprego, surgem em toda a Europa as leis que tornam
o ócio e a “vagabundagem” crimes de delito, juntamente com os ociosos,
vagabundos, os pobres, os miseráveis, os sem-terra são terminologias que estão
associadas e encaradas como sinónimos, visto que se trata de população de
deserdados da terra que não pagam impostos, levando ao êxodo rural, migrando
dos campos para as cidades, tornando as cidades verdadeiros recetáculos de
miséria; Simultaneamente surgem em França no século XIV as leis que protegem os
assalariados, e que visava pôr os pobres a laborar, para que assim sejam
protegidos por quem os empregasse. (Zoberman 2011, 50 pp).
Foi ainda no século XIV em
Inglaterra, com Eduardo II em 1388, que se criaram leis para os que não
trabalham e até mesmo para os que deixam um posto de trabalho, para o qual
teria que ser emitida uma autorização, denominada de “Carta de Guia” ideia que
se manteve até ao século XIX com a “Carta Operária”, ou seja, os trabalhadores,
não eram livres por si só para deixarem os seus trabalhos, necessitavam de um
documento para não serem considerados “desocupados errantes” ou “vagabundos”.
A
Caridade como combate à miséria dos Sem-ocupação
Segundo o autor, não existiu só a
opressão e as injustiças ou imagens negativas dos ‘sem ocupação’, a Igreja teve
um papel importante através da caridade, tal surgiu com a intensificação da
agricultura e dos ‘enclosures’ que fizeram disparar nas cidades a
população de pessoas sem trabalho, sem ocupação, levando ao aumento da
precariedade de famílias inteiras. Sentiu-se a necessidade de saber o que fazer
e como socorrer as vítimas, mas principalmente em situação de “ociosidade
forçada”, a questão colocou-se cedo, e a resposta foi a Caridade cristã,
vinda da virtude emblemática do povo judeu, onde a esmola é um dever sagrado
(Zoberman 2011, 71 pp).
Para o protestantismo iniciado no
século XVI, o homem é feito para trabalhar, o desemprego é reprovado como um
mal, uma praga; não esqueçamos que é precisamente do protestantismo que nasce o
capitalismo, logo a visão face aos sem-ocupação é diferente da moral católica, onde
muitas ordens religiosas como os franciscanos, entre outras ordens mendicantes,
que haviam sido criadas, precisamente para amparar os desvalidos, e lembra bem
o autor, por outras palavras, que para São Francisco de Assis a pobreza era uma
virtude no modo de ser e a caridade uma virtude no modo de agir. Lutero ao
contrário do que fala em parte o Antigo Testamento judaico, no qual o trabalho
pode ser também alienante, já os protestantes vêm no trabalho a virtude de
criação de riqueza, (Zoberman 2011, 77pp).
Os
descobrimentos e uma primeira globalização
Os descobrimentos iniciados com o
século XV e XVI, trouxeram uma mudança de paradigma, permitindo a muitas
pessoas emigrarem para o novo mundo, todavia a mobilidade geográfica não era
fácil, as mobilidades profissionais e sociais eram ainda regidas pelas normas
medievais, o que faz disparar o número
dos vagabundos, desvalidos e mendigos, e isso gera preocupação, a solução foi
iniciar-se uma mudança de atitude, deixar de lado as normas antigas,
iniciando-se uma nova forma de contratação entre homens livres, mas ao
contrário a luta contra o desemprego foi reprimir os que não tinham trabalho.
Tentara-se por cobro à situação, mas como não havia ainda a definição precisa
de “desempregado”, todos eram tratados de igual modo como sendo a mesma coisa,
os sem-ocupação, os vagabundos, aos mendigos, os chulos, as rameiras, os
gatunos, eram para a autoridade sinónimos. Esta visão distorcida, leva as
autoridades a tomarem os Trabalhos Forçados, e os Internamentos
compulsivos, como forma de combater o ‘desemprego’, esse modo de pensar só
viria a mudar séculos mais tarde, em França em 1699 foram criadas as Oficinas
da Caridade, primeira política social de integração de populações inativas (Zoberman
2011, 98-102 pp).
Noto que ao visitarmos a viagem
histórica pelo desemprego, desde os tempos bíblicos até aos século XVII e
XVIII, embora o termo ainda não fosse existente, podemos sentir que estamos
também a visitar a história do trabalho bem como dos aspetos ligados à cultura
e mentalidade vigentes e à organização social económica referentes ao trabalho,
passamos portanto para o nascimento do conceito de Desemprego.
2 – A
Industrialização e Surgimento do Desemprego
É nos finais do século XIX, que
após o êxito da industrialização e da prosperidade das principais potencias
europeias, surgira uma massa de pobres, afundados na marginalidade da exclusão
social, Karl Marx fala no seu livro O Capital, de esse exército de reserva disponível
(os sem-trabalho), que é usado pelos capitalistas, sendo o capital fixo o valor
imobiliário e o financeiro aplicado pelo capitalista, e o capital variável a
mão de obra precariamente contratualizada e mal paga. Para Karl Marx trata-se de uma contradição do
capitalismo, visto ser um desperdício de mão-de-obra e gerador de
empobrecimento.
O termo de ‘Desempregado’
veio a surgir pela primeira vez, não na Alemanha de Marx que fora o berço das
políticas sociais, mas em França e por força das estatísticas, devido a um
recenseamento da população no ano de 1896, o inquérito usava o termo
desempregado no sentido moderno que hoje temos.
Não obstante, Max Lazard, um
sociólogo francês, estudou o desemprego, e reclama a falta de uma definição
clara para o termo. Anos mais tarde as definições começaram a aparecer,
dividindo-se o desemprego em categorias, ora há os desocupados por falta de
emprego, ora os desocupados por falta de trabalho, em 1906 com a criação do
Ministério do Trabalho em França, definem-se melhor os conceitos de desemprego
por força das estatísticas (Zoberman 2011, 177 pp).
No entanto, não bastou que se
definissem apenas o que é o desemprego e quem são os desempregados, cada vez
mais, numa sociedade complexa, foi necessário estudar as diferentes situações de
desemprego, em particular o Desemprego de Longa Duração (DLD), um tipo de
desemprego que atinge também os profissionais formados, inteligentes e prontos
para trabalhar, que há algumas décadas poderiam escolher com facilidade onde
queriam trabalhar, hoje vêm-se numa situação de “relegados para um armazém dos
necessitados sociais” tal como diz o autor. Passa-se a fazer parte de um exército
de excedentes, prontos a serem utilizados ou não, de acoro com as conveniências
o mercado de trabalho.
O Desemprego está intrinsecamente
ligado ao capitalismo emergente na industrialização, mas a partir daí foi
possível uma primeira definição ainda na introdução do livro em que diz: “o
desemprego é o não-trabalho, (…) o não-emprego, mas não a inatividade, pois o
desempregado é um ativo potencial”. Ou seja, o conceito atual de
desempregado, é todo o individuo que se encontra sem trabalho mas que o procura
de forma ativa, e isto faz desses indivíduos sem emprego, parte integrante da
população ativa.
Por outro lado, também há, os
indivíduos que não tendo trabalho, não estão mais ativos na procura de emprego,
entre outros, um dos motivos pode estar relacionado a desistiram de procurar emprego.
E a corroborar este conceito, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) faz a
seguinte definição: “Considera-se “desempregado” o indivíduo com idade dos 15 aos
74 anos que, no período de referência, se encontrava simultaneamente nas
seguintes situações: não tinha trabalho remunerado nem qualquer outro; tinha
procurado ativamente um trabalho remunerado ou não ao longo de um período
específico (no período de referência ou nas três semanas anteriores); estava
disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não. (…) Considera-se “inativo” o indivíduo que, independentemente da
sua idade, no período de referência não podia ser considerado economicamente
ativo, isto é, não estava empregado nem desempregado” (Zoberman, 2011,
18pp);
Não obstante, os conceitos que atras foram expostos, não
impediram a continuidade de uma visão negativa sobre os desempregados, que além
das dificuldades associadas encontram a permanente companhia da vergonha da sua
situação entendida como “preguiça”, que foi com a industrialização condenada, à
medida que permitiu promover o trabalho livre, face à escravatura e à servidão,
assim, pôde-se definir os tempos de trabalho e não-trabalho, mas o fim do
esclavagismo ou da servidão, não evitaram o desemprego (Zoberman, 2011, 20pp).
O desemprego foi definido de diferentes modos, por dois grandes
economistas vejamos a visão do Neoliberal Milton Friedman: “A economia de um
país, apresenta uma taxa de desemprego natural, associada ao ótimo estado de
funcionamento da economia, formação de capital, inovações tecnológicas, mas que
no caso de um salário mínimo elevado, os empresários não podem contratar o
salário que querem, logo o mercado torna-se rígido, tendo um elevado
desemprego, mas se ao contrário, o mercado for flexível, o desemprego é
mínimo”. Por outro lado John Meynard
Keynes que indicava que se a procura de bens aumenta, consequentemente aumenta
o nível de emprego.
Keyines estava certo, mas este modelo funcionou bem até há
algumas décadas, após a globalização e a deslocalização de empresas para outros
países, a procura aumentava, mas quem beneficiava eram os países para onde as indústrias
se deslocaram. (o que permitiu a ascensão dos países asiáticos, tornando a
China uma das maiores economias o mundo).
O aumento atual desemprego de massas, tem vindo a tornar-se
cada vez mais preocupante, porque atinge uma vasta multidão de jovens que não
chegam ao mercado de trabalho, e de inúmeros adultos que perdendo o emprego
vivem numa situação de desemprego de longa e muito-longa duração, ou mesmo a
possibilidade de muitos não conseguirem voltar a reverter a situação.
2– O
Desemprego e Longa Duração uma nova realidade
Se por um lado Zoberman no seu livro,
indica-nos que o Desemprego foi uma realidade ocultada até ao século XIX onde
por força das circunstâncias da época foi imperioso uma mudança de paradigmas,
e foi com das estatística em França e a criação o ministério do Trabalho, que
surgiu o termo de ‘desempregado’ e ‘desemprego’. Por outro lado, a socióloga Ana
Paula Marques, que estuda o desemprego, em especial o Desemprego de Longa
Duração, fala-nos da invenção do desemprego, afirma no seu livro, que “é
difícil analisar o desemprego, na medida em que os seus contornos sociais são
cada vez mais invisíveis, nas estruturas sociais, nos estilos de vida e nas
orientações normativas e simbólicas” (Marque 2016, 26 pp).
Refere a autora que corrobora o
livro de Zoberman, ao dizer-nos que os estudos do desemprego são recentes,
tenho surgido no século XX, não só com os estudos promovidos pelo ministério do
Trabalho em França, mas também da criação da OIT em 1919, dentro da então Liga
das Nações.
No que concerne às épocas mais
recentes, a OCDE afirma que o desemprego é hoje maioritariamente de natureza
estrutural, devido à rigidez do mercado de trabalho (Marques, 2009). Para tal,
faz-se imperioso passar à tipificação atual do desemprego:
1) Desemprego
Conjuntural - Caracteriza-se por ocorrer nas fases descendentes do ciclo
económico, quando o Produto fica abaixo do nível de pleno emprego. (Mitange
2012)
2) Desemprego
Estrutural – Resulta das transformações ocorridas na estrutura económica,
ou seja, uma parte expressa os trabalhadores sem os requisitos técnicos ou
educacionais necessários aos novos empregos (como por exemplo população que sai
da zona rural para as zonas urbanas, ou empresas que adotam novas tecnologias
ou mesmo métodos administrativos que requerem um certo nível de escolaridade).
(Mitange 2012)
3) Desemprego Sazonal
– este tipo de desemprego ocorre em função das variações no ritmo e na
frequência da atividade económica em épocas típicas do ano, por exemplo época
de colheita, em determinadas zonas, o emprego se expande para depois se
contrair em períodos de cultivo por exemplo. Outro bom exemplo é em épocas
festivas ou de turismo nas zonas urbanas. Esse facto diz-se sazonal pois
repete-se todos os anos. 4) Desemprego Ficcional ou Natural – ocorre na
transição de um tipo de emprego para outro. Quando um trabalhador perde o
emprego, e não consegue encontrar outro imediatamente, diz-se que há uma
“fricção”, a diferença entre o tempo de adaptação para um novo posto de
trabalho (Mitange 2012).
Mário Centeno afirma que mesmo em
situação de Pleno Emprego os economistas preveem a existência de desemprego,
mas principalmente do desemprego estrutural, porque ainda que pareça
contraditório, há na economia um processo de criação e destruição de emprego,
com contratações e despedimentos simultâneos de trabalhadores. Para Centeno, enquanto o desemprego ficcional
não está associado a insuficiência de oferta de emprego, há por outro lado, o
desajustamento da oferta de emprego no mercado de trabalho entre a oferta e a
procura, para Mário Centeno, o desemprego estrutural e de longa duração (12
meses) ou de muito longa duração, acima dos 12 meses em diante, é uma
eternização da situação. (Centeno 2013).
Voltando à questão do Desemprego de Longa Duração, que aliás, uma situação cada vez mais presente, pelo desemprego estrutural, e os desenvolvimentos tecnológicos entre outras causa; também e para além dos conceitos económicos sobre tipologia de desemprego, visitar a vivência por quem passa por uma situação de desemprego, que causa em quem vive nesta condição, o risco de dissociação dos laços sociais, imposto pela perda de um salário, um empobrecimento gradativo e progressivo na media em que avança no tempo, onde muitos dos que vivem neste contexto, passam por situações de estigma (pelo rótulo negativo de “desempregado”), ainda a somar-se a discriminação que alguns sentem, pela visão ainda negativa que paira sobre o desempregado, como culpado da sua situação. Neste sentido Ana Paula Marques corrobora o livro de Zoberman sobre a História o desemprego (Marques 2009).
2–
Conclusão
A obra de Zoberman, aqui analisada,
permitiu trazer um maior conhecimento sobre o desemprego, tanto no que toca ao aspeto
histórico, indo aos primórdios dos tempos bíblicos aos nossos dias, analisando
criticamente cada momento da história e da cultura que encarava os
sem-ocupação, como os párias da sociedade, permitindo-nos desenvolver o nosso
conhecimento no campo teórico-sociológico, abordando também aspetos económicos
e políticos inerentes ao tema.
Sobressai no computo geral da
leitura, que corrobora a ideia de que o Desemprego é um Constructo Social, como
afirma Démaziere no seu estudo “Ser Desempregado para os Sociólogos”, mas ao
mesmo tempo que houve um caminho a ser palmilhado na História que nos fez
chegar ao conceito de Desemprego e Desempregado, há também a partir desta
leitura, a ideia que há ainda muito a percorrer no intuito de mudar em termos
de visão, não do desemprego em si, que é de cariz económico, mas
fundamentalmente, a visão sobre o desempregado, como sendo um de nós, pela
razão de que as sociedades atuais, herdaram muito da mentalidade e cultura
negativa e estigmatizante sobre as pessoas em situação de desemprego,
persistindo ainda a ideia de que há uma relação direta entre o desemprego e a
criminalidade, a mendicância, a prostituição, o inútil ou o vagabundo e
preguiçoso, que trazem consigo, a ideia de acarretar a culpa à própria pessoa
em situação de desemprego, entre outras situações de exclusão, quando na
verdade se por um lado se chegou ao termo (palavra) desempregado, muito ficou
por mudar.
Tal como refere Ana Paula Marques, a sociologia tem vindo a desenvolver estudos sobre variados aspetos relacionados com o desemprego, nomeadamente o estigma, o rótulo, as consequências pessoais, psíquicas e até sociais do desemprego, em particular o de longa duração, tanto da população jovem que demora a entrar para o mercado de trabalho, como a população acima dos 45 anos, que ao perder o emprego, pode não voltar a conseguir empregar-se.
BIBLIOGRAFIA
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DEMAZIÈRE, Didier
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SENNET, Richard (2009) A Corrosão do Caráter-
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no novo capitalismo. Rio de Janeiro, Editora Record, pp. 100
ZOBERMAN, Yves (2011), "Uma História do Desemprego – Da Antiguidade aos Nossos Dias", Lisboa – Editora Teodolito.
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