quinta-feira, 21 de junho de 2018

O Conflito Israelo-árabe no solo otomano

Recentemente voltou-se a falar do conflito israelo-árabe, sobretudo depois da inauguração da Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, a Capital de Israel, todavia, apesar da informação veiculada nos media, a esmagadora maioria da população mundial, ou desconhece o assunto, ou tem uma ideia enviesada do mesmo. De forma a podermos ter uma visão mais precisa sobre o problema, é necessário recuar no tempo e voltarmos ao Império Otomano, ou talvez ainda devemos recuar um pouco mais no tempo.

O Conflito Israelo-árabe no solo otomano
Quanto ao conflito israelo-árabe, ao qual vários líderes políticos de ambas as partes sentaram-se à mesa para negociar um acordo de paz, podemos dizer que é um conflito de difícil definição, à partida é de Guerra de Guerrilha Urbana, obviamente não é mais uma guerra convencional, como fora em 1948 e em 1967, respetivamente a Guerra da Independência de Israel e a Guerra do Yom Kippur.
As origens deste conflito são anteriores à criação do Estado de Israel, e até mesmo surgiram antes do fim do Império Otomano, quando a Palestina era uma mera província deste, no qual viviam em aparente paz, tanto judeus como árabes, ambos eram palestinianos, na medida que nasceram na província otomana da Palestina, não se tratou nunca de uma etnia ou sequer de uma nação, no entanto os judeus por não serem muçulmanos eram preteridos não ocupando cargos públicos e não podendo ter as melhores terras ou propriedades. Para ilustrarmos, observamos que no final do séc. XIX um grupo de judeus quis comprar vários hectares para poder construir uma cidade sua, o Império Otomano, vendeu-lhes um pântano perto da antiga cidade de Jafa, onde em 1909 tinha sido erigida Tel-Aviv como subúrbio dessa cidade velha, após muito esforço e a morte de mais de um milhar de operários judeus causados pela malária e febre-amarela contraída nos pântanos, entretanto drenados. Hoje Tel-Aviv é a cidade mais moderna, mais desenvolvida e a mais rica de todo o Oriente Médio.
Após o fim da I Guerra Mundial e da consequente desintegração do Império Otomano, as potências europeias dividiram entre si, os despojos deste invejado império, o Líbano e a Síria ficam a ser um protetorado francês, a Palestina, que incluía o que é hoje a Jordânia, juntamente com o Iraque passaram a ser protetorados do Reino Unido. Nessa altura o então Primeiro-ministro britânico Balfour, em consequência do que durante seculos fora o problema da questão judaica, redige uma declaração na qual afirma o direito do povo judeu à autodeterminação, ou seja, o direito a ter a sua própria terra, dando um novo folego ao movimento sionista e à emigração judaica da Europa para a Palestina.
A emigração judaica acentuou-se após a II Guerra Mundial pela migração massiva dos sobreviventes do Holocausto, tendo sido, no entanto, proibida por algum tempo pelas autoridades britânicas na Palestina, devido a isso, alguns barcos ficaram sem poder desembarcar os passageiros, o navio Êxodos, foi um deles, memorizado nas telas do cinema.
Acentuam-se assim, a guerra de guerrilha na Palestina, de um lado os muçulmanos com as forças militares árabes, sendo lideradas por Amin al-Husayni o Mufti de Jerusalém, o mesmo que se havia encontrado com Hitler, a quem lhe pedira a garantia de que os judeus não migrassem para a Palestina, além de defender a ‘Solução Final’ face ao problema judaico, ou seja, o extermínio nos campos de Auschwitz ou Bergen-Belsen entre tantos outros. Por outro lado, os movimentos guerrilheiros israelitas como a Haganáh, o Etzel, o Lechi e o Irgun, tinham atividades paramilitares contra o domínio britânico e as forças militares árabes.
Dos movimentos acima citados, os três primeiros vieram a juntar-se quando foram criadas as IDF forças de defesa de Israel em 1948, o Irgun foi o mais encarniçado movimento terrorista, tendo atacado alvos tanto árabes como britânicos.
Após o Reino Unido abandonar o território, com o fim do Mandato Britânico, sem que tenha dado posse a autoridades israelitas e árabes, de acordo com o estipulado na Partilha da Palestina, tal como previsto na Resolução 181 da ONU, os israelitas proclamam pela voz de David Bem-Gurion a independência de Israel, acenando para o reconhecimento de um Estado Árabe na Palestina, oferecendo a cooperação e a amizade, entretanto, os palestinianos árabes aconselhados por lideres dos países árabes, não aceitaram criar o seu próprio Estado na região, e muito menos, reconhecer o Estado Judaico; A 14 de maio Israel proclamara a independência, no dia 15 era invadido por cinco exércitos árabes, Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque, os mesmos países que aconselharam os palestinianos a não criar um Estado e a abandonar as suas casas, queimando-as bem como aos campos que deixaram para trás, seguindo o conselho dos países que fizeram outrora parte do Império Otomano.
Aqui está a chave da compreensão do problema da Palestina ou do conflito israelo-árabe, cada estado depois de desmembrado o Império Otomano pode existir normal e livremente, desde que governado por fiéis, ou seja, por muçulmanos, o que claramente não é o caso de Israel, que é considerado uma parte do antigo território otomano que passava a ser governado por judeus, ou seja por “infiéis”, esta teoria é corroborada pela Guerra civil do Líbano, tendo rebentado em 1975, quando os muçulmanos rebelaram-se contra os cristãos maronitas que estavam no governo, ora os cristãos ainda que menos odiados que os judeus, não deixam de ser considerados “infiéis” ou “impios” na cultura mais radical da religião islâmica, ou melhor dizendo, o solo do que fora o Império Otomano é sagrado e consagrado apenas aos muçulmanos, nesta perspetiva, qualquer negociação de paz do conflito israelo-árabe torna-se inviável.
No entanto e mesmo tendo conhecimento que a política esbarra incapaz no campo da crença, os esforços para a paz nunca foram abandonados por ambas as partes, sendo que desses acordos destacamos o de Oslo, que envolveu em 1993 o então Presidente estadunidense Bill Clinton, o então Primeiro-ministro israelita Itzaac Rabin e o Presidente da Autoridade Palestiniana Yasser Arafat, este último dera um precioso contributo para a paz, ao renunciar à luta armada em 1988, reconhecendo o direito da existência do Estado de Israel, o que levou ao afastamento do Partido Hammas em seu apoio político, pois trata-se de uma facção da OLP que mantém no seu conteúdo programático o não reconhecimento de Israel como Estado, bem como o objetivo da destruição total de Israel.
Negociações de Paz Israelo-árabe - Acordos de Oslo
·       Fim das hostilidades
·       Retirada das IDF da Faixa de Gaza
·       Criação da Autoridade Palestiniana
·       Retirada de Israel do Sul do Líbano
·       Estatuto de Jerusalém
·       Fim dos Colonatos judaicos na Cisjordânia
Os acordos tinham pontos chaves que eram melindrosos, de tal forma, que apesar de ser possível a retirada de Israel do Sul do Líbano e das IDF da Faixa de Gaza, além de ser criada a Autoridade Palestiniana, não se cumpriu, todavia, o fim das hostilidades pelos movimentos radicais islâmicos; Israel não renuncia a ter Jerusalém como sua capital, tal como Berlim, que fora a Capital da Alemanha Oriental, ainda que dividida; para além de tudo, soma-se à retirada dos colonatos na Cisjordânia, o assassinato de Itzaac Rabin em 1995.
As negociações deste conflito têm tido fases de avanços e recuos, muitos outros acordos têm sido preparados, mas não avançam nos aspectos políticos, devido ao fundamentalismo islâmico do Hammas ou aos colonatos judaicos na Cisjordânia.
Atualmente muito ainda há para se negociar, as principais questões para um acordo, são as seguintes:
·     Estatuto de Jerusalém como capital de Israel;
·     Segurança de Israel e combate ao Terrorismo;
·     Reconhecimento do direito a Israel existir como Estado independente, por parte dos palestinianos e em particular do Hammas.
·     Retirada dos colonatos israelitas na Cisjordânia;
·     Redefinição das Fronteiras para os limites anteriores a 1967 (exigência palestiniana).
Destas questões, muitas delas são de difícil negociação, nomeadamente as questões fronteiriças que Israel não pretende rever, outro é o estatuto de Jerusalém, a cidade santa, que os palestinianos e nem os demais países árabes aceitam, devido a motivações de cariz exclusivamente religioso.

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