O Hebraico é uma língua semítica, falada por
aproximadamente dez milhões de pessoas em todo o mundo, é atualmente oficial em
Israel, e é falada em comunidades judaicas espalhadas pelo mundo, é além disso utilizada como
língua litúrgica da religião judaica.
Trata-se de uma língua do ramo afro-asiático,
semítico e cananeu, que se desenvolveu no oriente-médio, mais precisamente na
antiga Judeia, o termo hebraico, vem de hebreu, o povo que veio da Babilónia,
atravessou o rio Jordão e se estabeleceu em Canaã, mais tarde, migra para o
Egito e de lá sob a liderança de Moisés (Moshê) e Aarão (Aaron), sai à
conquista da Terra Prometida já sob a liderança de Josué (Yeoshua), é nessa
terra recém conquistada que se desenvolve o hebraico, ou seja aproximadamente
há cerca de 3.500 anos.
O hebraico começou por ser um dialeto que surgiu de
idiomas do Crescente Fértil da Mesopotâmia, e recebeu diretamente influencia do
Fenício, mais tarde, outros dialetos que se desenvolveram de igual modo,
assemelham-se muito ao hebraico, é o caso do aramaico, há também semelhanças
com outras línguas semitas.
Para se estudar e compreender a história do idioma
hebraico, divide-se a mesma em períodos ou fases,
atualmente as pessoas conhecem a divisão simples, por Hebraico Bíblico e por
Hebraico Moderno, mas na realidade é mais complexo e profundo, pelo que temos
os seguintes períodos, a saber:
- Período Arcaico, no
qual se escreveu a Torá ou partes da mesma, que vai do Século XIII ao Século X.
AEC (Antes da Era Comum).
- Período Clássico, que
vai do Século X ao Século VI AEC, no qual foi escrito Josué, Juízes, I e II
livros de Samuel, entre outros.
- Hebraico Tardio, vai
do Século VI ao II AEC, nos quais se escreveu, Rute, Esther, Crónicas, entre
outros.
- Período de Qumran, do
Século II AEC ao Século II EC. Desenvolvimento da Tanack.
- Período Talmúdico, do Século
II ao X, EC, desenvolvimento do Talmud, tanto da Mishná (repetição) como da Guemará (complemento).
- Período Medieval, Séculos
X a XV, onde se desenvolveu a Cabala, livros como o Zohar, dos escritos e
Maimonides, Rashi entre outros sábios, e é o período no qual foram criados os sinais massoréticos, que
preservam os sons vocálicos do hebraico.
- Período Moderno, o
hebraico tal como se fala hoje em Israel.
O hebraico como qualquer outro idioma, sofreu a
influencia de outros idiomas, que se impuseram no território da Judeia, como o
grego, e o latim, contudo após a Guerra Romano-Judaica, de Bar Kockba em 138 da
EC, os judeus foram expulsos da sua terra, ficando apenas um remanescente, a diáspora
deu-se por todas as províncias do Império Romano, da Anatólia a Sefarad (Hispânia,
que hoje são a Espanha e Portugal) indo ao norte da Europa a Germânia e a Gália.
A realidade da diáspora era a de um judaísmo sem o Templo que havia sido destruído,
e portanto sem os sacerdotes e os serviços litúrgicos do II Templo, dito de
Herodes, restaram apenas os rabis ou os cohanim (sacerdotes) que passaram a
fazer o papel de rabbis na instrução das comunidades da diáspora.
No I Século da EC. Já a população da Judeia não falava
hebraico, apenas os cohanim, os escribas e os rabbis é que o sabiam ler,
escrever e falar, e foram eles que perpetuaram a língua sagrada da Tora até aos
nossos dias, o hebraico foi-se perdendo pouco a pouco, até ser considerada uma língua
morta.
No lugar do hebraico desaparecido, ou no que se tornou o
hebraico, senão uma língua meramente litúrgica e com caracteres hieroglíficos,
ou seja escrita sagrada, surgiram dois importantes idiomas, um é o ladino, uma língua românica cuja raiz gramatical
é semelhante ao castellano, utilizava os caracteres hebraicos com fonética e palavras
oriundas do castellano, tendo sido falada nas comunidades judaicas de Sefarad
(Portugal e Espanha) precisamente pelos judeus sefarditas, que foram expulsos
de Espanha em 1492 pelo decreto de Alhambra, tendo a maioria se refugiado em
Portugal, mas o rei de Portugal D. Manuel I, vê-se obrigado a aceitar a imposição
dos reis católicos de Espanha Isabel de Castela e Fernando de Aragão, que por
um tratado de paz, e aliança por meio de um casamento, exigem do rei de Portugal
a expulsão dos judeus, como forma de uma limpeza étnica, religiosa e cultural
no seio da cristandade. Assim em 1497, os judeus são expulsos de Portugal, indo
inicialmente para o Império Otomano, onde é hoje a Turquia, a Holanda, onde
foram morar os pais do filósofo Espinosa, e outros foram para Inglaterra, da
Holanda rumaram para o Novo Mundo, onde a Primeira Sinagoga em solo
estadunidense foi feita por judeus portugueses, levando o idioma ladino, tanto
na liturgia como na música.
No norte da Europa, mais precisamente onde é hoje a Alemanha,
surgiu um idioma judaico, denominado de Ydish, falado pelos judeus askenazim,
termo que deriva de Askenaz, que significa precisamente Alemanha, portanto o
Ydish é um idioma judaico que utiliza os caracteres hebraicos, tendo a fonética
germânica.
Devido ao desaparecimento do hebraico como lingua viva,
ou seja falada e mantida ativa por uma população, e sobretudo à ameça que pairava sobre a possível
perda do conhecimento do idioma sagrado e do modo correto como se deveriam
pronunciar as palavras do hebraico gravadas pelos escribas (sofers) na Tora,
foram criados os sinais massoréticos, sinais gráficos colocados debaixo de cada
caractére hebraico indicando a vogal e assim mantendo vivo a pronuncia correta
das palavras da Tora, bem como das rezas das três principais orações diárias.
Os pogroms sofridos pelas comunidades judaicas em toda a
Europa, fizeram reacender no fim do século XIX o desejo de uma Pátria judaica, que
fora idealizada por Theodor Hertzl, e politicamente apoiada pela Declaração de
Balfour, que reconhecia o direito de os judeus terem uma pátria livre,
inclusive de regressarem à Palestina, a antiga Judeia, essa onda de
renascimento nacionalista, denominada de Sionismo
faz surtir a unidade dos judeus, pelo que por consequência acabou por apoiar o
surgimento do idioma comum a todos os judeus.
Foram os esforços de um linguista e poliglota russo,
nascido no seio de uma família judaica, cujo nome de registo era Yrzack
Perlman, mas autodenominou-se de Eliezer
Ben-Yehudá, que por ter sido aluno de uma Yeshiva, e ter estudado ao máximo
o hebraico bíblico e litúrgico para vir a ser rabbi, pelo que sonhava em poder
fazer renascer a língua hebraica e torna-la uma língua viva, essa passou a ser a
sua obra, o seu ideal, pelo qual se bateria toda a vida.
Inicialmente Eliezer Bem-Yehudá, não fora levado a sério,
pelo que consideravam os seus esforços sem valor, e infrutíferos, mas o
movimento sionista deu fôlego aos sonhos de Eliezer, que vivendo na Palestina,
promoveu pouco a pouco o hebraico entre os judeus, de tal modo que em 1948
quando Israel ressurgiu dois mil anos depois como um País independente e
soberano, já os judeus da Palestina falavam hebraico, e muitos outros na diáspora
desenvolviam esforços para seguir o mesmo caminho.
Hoje a maioria das comunidades na diáspora não fala
fluentemente o hebraico, apenas uma minoria, mas o idioma tem vindo a ser
estudado até mesmo por não judeus, sobretudo devido aos estudos bíblicos efetuados
por cristãos de diferentes correntes.