A
violência doméstica, infelizmente é uma realidade, que choca e que
acontece silenciosamente, vitimando pessoas inocentes e indefesas,
como cônjuges, crianças, doentes, e idosos, de ambos os sexos.
O Fenómeno é mundial, e ocorre de variadas formas, quer seja física, psicológica, maus tratos, discriminação e booling. Ocorrendo na maioria das vezes no seio da família, e tem como motriz, a cultura violenta e opressiva que se vive a cada dia mais, pelos meios de comunicação que vulgarizam a violência e desvalorizam a vida e a pessoa humana em todos os sentidos.
Dados
da ONU afirmam que só no ano de 2002, cerca de 53.000 crianças em
todo o Mundo, dos 0 aos 17 anos, foram vitimas de homicídio, e em
muitos casos dentro do seio familiar onde a vitima vivia. Este é um
fenómeno que se não for divulgado, discutido e cuidado, tornará
ainda mais violenta e mais grave a situação em si.
Um dos exemplos mais flagrantes que ocorreu recentemente, foi no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Três Passos, em que um menino de 11 anos Bernardo Boldrini órfão de mãe desde 2010, e a viver com o pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini, e ainda uma meia-irmã de um ano e meio, que nascera desta relação, Bernardo solicitou à justiça que lhe dessem outra família por sofrer de maus tratos e afirmar ainda que temia pela sua vida pois já havia sofrido uma tentativa de homicídio por asfixia além de ser obrigado a tomar medicamentos dados pela madrasta para o fazer adormecer, mas não foi ouvido e nem lavado a sério, pelo que a própria justiça cometeu um grave erro ao negligenciar a segurança da criança, tendo permitido que fosse mantido à guarda do seu pai e madrasta que o tratava mal, e o negligenciava com o conhecimento e consentimento paterno, em vez de procurar inserir este menino numa família de acolhimento.
O
menino Bernardo Boldrini, desapareceu no dia 4 de abril, e foi
encontrado morto dez dias após o desaparecimento a 14 de abril,
estava enterrado numa posição semi-vertical, quase de pé, a
autópsia feita pela polícia cientifica, revelou que a
criança teria sido sedada com uma injeção letal, com medicamento
usado na pena de morte em alguns Estados dos Estados Unidos da
América; No dia 15 de abril o Brasil entrou em choque e comoção
com o anúncio da justiça de que as suspeitas deste crime, recaíam
imediatamente sobre o Pai e a Madrasta, surgindo uma terceira pessoa
que terá ajudado no crime, uma assistente-social de nome Edelvânia
Wirganovicz, todos os três foram indiciados e detidos estando em
prisão preventiva, acusados de serem autores do crime de homicídio
qualificado em primeiro grau. Aguardam julgamento por júri popular,
o caso foi noticia no mundo inteiro, tendo chocado a opinião pública
sobre a negligência da sua integridade e o fim trágico do
planeamento à consumação da morte desta criança.
Resta
no entanto saber o móbil do crime, tendo sido reaberto o processo da
morte da mãe de Bernardo Boldrini, que antes se suspeitava de
suicídio, como provável homicídio, por motivos de herança. O
curioso neste acontecimento é os acusados fazerem parte de um padrão
de nível social elevado, Leandro Boldrini é formado em Medicina (ou
seja isto é um absurdo), em vez de salvar vidas, premeditou a morte
do próprio filho, a Madrasta Graciele Ugulini é enfermeira de
profissão, e a ajudante do crime, assistente-social. Há aqui uma
verdadeira anomia, e um contrassenso que nos leva até à loucura, a
negligência da justiça, e o facto de pessoas, cujas profissões que
exerciam estarem diretamente ligadas à vida e ao bem estar da pessoa
humana, serem eles os autores de um macabro assassínio de
uma criança indefesa, do próprio seio familiar. Há algo de
muito errado na sociedade contemporânea em que vivemos e que temos
de pensar sobre isto, bem como lutar para que não volte a
acontecer.
Como pessoas e humanos que somos, temos o dever e a obrigação moral de pensar sobre estes casos, a sociedade como um todo é responsável pela defesa, de pessoas em situação de vulnerabilidade, como foi o caso deste menino, e o será de tantas outras pessoas, mulheres indefesas, idosos, doentes, a violência doméstica é um crime público e cabe a nós vizinhos, amigos, testemunhas, denunciar todo e qualquer maltrato contra uma pessoas, seja ela qual for.
As Pessoas devem estar em primeiro lugar em todos os setores e estruturas da sociedade, é para as pessoas que as instituições políticas, jurídicas, económicas e as de suporte social são feitas, pelo que a população brasileira está ansiosa para que a justiça se faça e funcione de facto, e que o poder legislativo crie leis que dêm condições legais de maior proteção às vitimas de maus tratos como foi o caso deste menino.
Resta-nos ainda a obrigação de estudar as razoes profundas da violência, que é hoje praticada, e que é fruto não só da maldade humana, mas de outras formas de violência que nos afetam sem darmos por isso, e estão por todo o lado à nossa volta, incitando-nos à violência, levando-nos à resignação a um mundo decadente, à depressão, e até à auto-violência, que é o suicídio e a cultura estabelecida faz com que a sociedade conviva com naturalidade à violência, que sofrem todos os indefesos como estas crianças, e o resultado será uma violência cada vez maior, numa sociedade e justiça surdas, num sofrimento invisível, mas que é colossal e se não a combatermos não saberemos onde irá parar.
Por Filipe de Freitas Leal
Referências:
Revista Veja - MP denuncia quatro por morte do menino Bernardo de 15/05/14
Jornal Zero Hora - Justiça Nega Liberdade - E aguardam em Prisão Preventiva.
Jornal Zero Hora - Veja os principais diálogos entre a madrasta e Bernardo.
RBS TV - Videos no telemóvel/celular de Bernardo Boldrini gritando por socorro.
CNN News - The mysterious death of 11 year old Bernardo Uglione Boldrini
1 comentários:
Há algo pior do que pai e madrasta assassinos. A Justiça. Sim, ela é corresponsável pela morte do menino Bernardo, a partir do momento em que ele denunciou os maus-tratos, mas não foi ouvido. A vítima, para a Justiça brasileira, é invisível. O réu, respeitado. E por que não vão a júri popular? Algo de podre no reino da Justiça.
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