Hoje em Portugal, passados 40 anos da
Revolução vemos pessoas que falam do 25 de Abril de um modo tímido, ou com
receio de ferir suscetibilidades, acerca do passado, e cada vez
mais fazem parecer que se está no 24 de Abril, sobre tudo falam com muito cuidado,
mas afinal medo de quê, da verdade ou da frontalidade com o que de facto se
pensa e crê, mesmo correndo o risco de se estar errado, ligeiramente errado, ou
errado de todo? Ou falta-lhes a coragem de defender um regime de exceção, ou da
desilusão de uma democracia que parece ter construído uma sociedade
que não é para todos igual? Ora a liberdade de expressão e de pensamento são
componentes inalienáveis a uma verdadeira cidadania, da qual se faz
verdadeiramente um país. Passo pois a citar o que deveras se comemora hoje
passados 40 anos do 25 de abril de 1974, e falo do que de facto é para mim a
Revolução dos Cravos, mesmo correndo o risco de estar errado, não o correrei
certamente, no que vivi e presenciei.
O 25 de Abril não foi em si mesmo mau ou bom,
foi antes a consequência inevitável da inércia política de Marcello Caetano, em
democratizar o país e acabar com a guerra colonial que se arrastava desde 1961
nas possessões portuguesas em África, em particular a Guiné Portuguesa,
Moçambique e Angola, e alias como o próprio Marcello Caetano havia prometido ao
país em setembro de 1968, quando tomou posse após o afastamento de Salazar por
doença grave, nessa data Caetano iniciara então o que veio a chamar-se de
Primavera Marcellista.
Do mesmo modo não tento aqui denegrir a
imagem do último Presidente do
Concelho do Estado Novo, mas
de fazer justiça à história, Marcello Caetano era um homem culto, e de grande competência
no Direito Internacional, no entanto não era hábil politicamente, muito embora
inicialmente tivesse tido objetivos claramente positivos na tentativa de
modernizar o país algo que em parte fez, com o Projeto turístico de Vila Moura,
no Algarve, e com o desenvolvimento exponencial do Complexo Industrial de
Sines, sem falar claro nos PND's Planos Nacionais de Desenvolvimento, planos
quinquenais, e que marcaram essa tentativa de um Milagre Económico Português,
que se revelavam infrutíferos devido à despesa pública que a Guerra Colonial
impunha ao país, na sangria de nossos jovens nos campos de combate no Ultramar,
e na emigração em massa, dos que fugiam não só da pobreza mas da guerra.
É também de salientar a tentativa de promover
a aceitação de Portugal junto aos seus aliados, como o Brasil, (visita triunfal
em 1972 aquando da entrega dos restos mortais de D. Pedro I) e com os
vizinhos Europeus do qual sai o descalabro da visita ao Reino Unido em 1973,
afetada pelo escândalo do Massacre de Wiriamu em Moçambique, sem falar do caso
da Capela do Rato, em que forma presos personalidades como Francisco Pereira de
Moura e Jorge Sampaio, ou ainda das eleições legislativas de 1973 em que a CDE
Comissão Democrática Eleitoral, retirara-se da corrida eleitoral, e a ANP Ação
Nacional Popular concorre sozinha, tão ao jeito de regimes de exceção ou mesmo
partido único.
Claro está que após o 25 de Abril, houve
consequências, das quais se sucederam em fenómenos maus e até traumáticos para
a sociedade portuguesa, tal como ocorreria em qualquer processo revolucionário,
foi assim com a Revolução Francesa, foi igualmente traumático a Revolução da
Industrial, que imensas transformações trouxe à nova sociedade nascida dos
escombros da sociedade agrícola, e também foi traumática a Revolução de 5 de
Outubro de 1910, que trouxe ao país um desequilíbrio no âmbito político,
económico e social.
E isso deve-se sobretudo a traumas,
decorrentes da acirrada luta pelo poder, feitos na dicotomia esquerda x
direita, sendo que na altura pairava sobre toda o Mundo a aura da Guerra Fria,
o que estava em jogo era saber, e também decidir para que lado pendia o novo
regime, e por vezes o país quase saiu de uma ditadura para ingressar outra, sem
falar que no Verão quente, contam-se as espingardas, e no 25 de novembro de 1975, a ultima cartada foi
jogada, colocando o país à beira da Guerra Civil, ou mesmo da divisão do país
em dois.
Contudo não ponho em causa, o modo
errado como as colónias foram libertadas, mas não nos podemos esquecer que
Salazar votou o nosso país ao total atraso económico, social e até político do
ponto de vista internacional. O 25 de abril veio permitir assim, tentar corrigir
esses erros, claro que no entanto e como eu disse antes, Quarenta Anos depois, os ideais foram esquecidos, as
conquistas de Abril perderam-se e a democracia não chegou a atingir o seu
ápice; As gerações mais novas não lhe dão hoje o devido valor, pois não
sabem o sabor da liberdade, no exato momento em que se a conquistou e não
sabem ver nos sinais mais atuais o perigo de se a perder de novo, sem sequer darmos por isso.
Comemorar abril, não é comemorar os erros que
foram feitos, comemorar abril é lembrar que hoje a liberdade é uma
responsabilidade de cada um, como cidadão e que o futuro do nosso país passa
indubitavelmente pela nossa responsabilidade. Sobretudo quando paira sobre a
Europa o perigo do renascer do neofascismo e da extrema-direita que cada vez
mais ganha força, com discursos racistas, antissemitas e xenófobos.
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