A discussão do momento, para
além da política, da crise económica e do vulgar futebol, é sem dúvida o Novo
Acordo Ortográfico, que como já devem ter notado foi adotado por este blog,
acompanhando outros tantos sites e blogs na grande rede virtual.
Eu partilho com muitas outras
pessoas do seguinte ponto de vista, que é, independentemente de gostar ou não,
adoto o Acordo Ortográfico por uma questão de coerência, e é de bradar aos céus
notícias que saem a público, nas quais se diz que "a partir de 2015 o governo
afirma que não vai policiar a aplicação do Acordo".
Ora isto é no mínimo um demérito
para a República, pois o Acordo Ortográfico têm força de lei, ou não tem? E
trata-se de um "Tratado Internacional" envolvendo inicialmente sete
estados soberanos, Timor é o oitavo (aderiu após a independência em 2002),
nesse sentido, quem é que o governo pensa que é, para se recusar a vigiar a
aplicação do acordo? Ora, trata-se de leis domésticas a que o estado se obrigou
ao ratificar acordos internacionais.
E neste
sentido conversando e comungando deste ponto de vista, com uma professora
amiga, que acrescentou e bem, "Vejo todos preocupados com o seu
incómodo e opinião e muito poucos preocupados com o significado destas
declarações. Se o Governo só policia as leis com que concorda ou que lhe
interessam, onde fica o nosso Estado de Direito?"
Aliás
acrescento ainda, que o acordo não foi feito ontem, demorou mais de 20 anos, e
até foi no governo de Cavaco Silva que o acordo foi assinado e foi Portugal
quem propôs o acordo, tendo sido solenemente ratificado em Lisboa a 16 de
dezembro de 1990, tendo o tempo que passou sido mais que suficiente, no qual
deveria ter sido discutido e não o foi, protelou-se negligentemente, como aliás
se faz em tudo neste país (e em particular as mesmas pessoas), agora Portugal
tem que mostrar que é um país sério, responsável e credível, tendo por isso que
praticar o que a Lei manda. O governo também tem que aprender a governar as
suas palavras e opções, pois parece que o não sabe fazer de facto.
E
concordo com o que referiu a minha amiga na conversa ao afirmar: "Esta
atitude de protelar e do "tanto faz", "agora não me dá
jeito" e "só assumo das responsabilidades o que me apraz" e
"o que importa é o meu umbigo" é que nos levou e mantém onde
estamos". E acrescento eu que é por isso que temo muito que
continue a contaminar o futuro do país e condenando as gerações vindouras. É
caso para dizer Valha-nos Deus.
E
lembrou a interlocutora, que em jogo "há as crianças. Todos os
manuais foram alterados e andamos a ensinar-lhes um modelo que depois
"tanto faz"? Que pedagogia é esta? É a prova cabal da
irresponsabilidade, será que não se consegue observar que alterações
ortográficas já ocorreram variadas vezes no nosso país ao longo da história, e
que também noutras línguas, até o espanhol está a fazer alterações, o italiano
tinha feito uma reforma na ortografia, depois acho que um acordo bem feito é
sempre melhor para o fortalecimento da CPLP.
A
proposta de um acordo para simplificar a língua portuguesa, nasceu ainda na
monarquia no ano de 1885, mas não foi avante, com a República, fez-se uma
reforma ortográfica com vista a eliminar o analfabetismo e fora nomeada
entre outras figuras Carolina Michaelis primeira
professora universitária em Portugal e Cândido Figueiredo,
mas deixou-se o Brasil de parte e daí para cá os dois países divergiram
na ortografia, tendo havido sucessivas tentativas de reaproximação, em
1931, 1940 e em 1971 houve conversações com esse fim.
Para os
mais jovens, fica aqui a lembrança de que se escrevia desta forma antes
de 1911 phosphoro, orthographia, exhausto, estylo e
a já famosa pharmacia, além de Brazil, monarchia, portugueza,
prohibido, annuncios, como na ilustração acima.
Digo
isto sem medo, por crer que ter opinião custa apenas o tempo de se informar, o
esforço é recompensado por uma consciência livre e uma cidadania ativa! Para
tal temos de exercer o direito à liberdade de expressão, pensamento e
associação, pilares fundamentais da Democracia!
6 comentários:
Também adotei o NAO e procuro divulgá-lo (em http://acordo-ortografico.blogspot.com). Concordo inteiramente com este "post".
Abraço.
António Pereira
Caro António Pereira,
Muito obrigado pela sua visita e pelo seu comentário, também tive já a oportunidade de visitar o seu blog:
http://acordo-ortografico.blogspot.com e achei muito pertinente e interessante, continue.
Um abraço
Filipe de Freitas Leal
Com esta reforma ortográfica perdeu-se uma enorme oportunidade de uniformizar a ortografia de todos os países lusófonos. Se até aqui havia duas normas ortográficas, agora passou a haver três:
a) A norma brasileira (usada no Brasil);
b) A norma portuguesa pós-acordo (usada em Portugal);
c) A norma luso-africana pré-acordo (usada nos restantes países lusófonos. Angola e Moçambique não ratificaram o AO e os outros apesar de o ratificarem não o aplicam);
Internacionalmente a língua sofreu um enorme abalo com este acordo ortográfico que veio afastar ainda mais a ortografia dos diversos países lusófonos. Lamentável. Se calhar mais valia ter deixado tudo como estava...
Pedro Oliveira Reis
Caro Pedro Oliveira Reis,
Antes de mais obrigado pela sua contribuição para este debate, com a suas ideias, mas permita-me discordar de si num ponto, que me parece importante debater. Não penso que o acordo tenha trazido um abalo à língua portuguesa, primeiro porque não muda a estrutura da língua, a sua gramática ou a sua riqueza, apenas cinge-se à ortografia e foi proposta por Portugal no governo de Cavaco Silva há mais de 20 anos, segundo um acordo feito entre países é um Acordo Internacional que tem força de lei, o não cumprimento do acordo só desacredita quem não o cumpre. o que faz que países como Angola e Moçambique possam ficar internacionalmente desacreditados, no que se refere a não cumprir tratados internacionais.
Sou um defensor de que os povos da lusofonia se aproximem pela língua, pela cultura, na era das comunicações o acordo ortográfico pode beneficiar a uniformização da língua portuguesa como um todo.
Os meus cumprimentos.
Após as últimas notícias de que alguns órgãos em Portugal, como Câmaras Municipais e o Centro Cultural de Belém, retiraram dos seus computadores e documentos oficiosos o AO Acordo Ortográfico, faz-me pensar que o tira e põe, e o faz e desfaz em toda a Lusofonia, só nos descredibilizam, ainda por cima trata-se de Um Tratado entre Estados Soberanos, que tem à Luz do Direito Internacional força de Lei.
E qual é mesmo o mal de phosphoro, estylo, annuncio, pharmacia, exhausto, orthographia etc.? É muita areia para o camião dos portugueses de hoje? Que argumento mais batido e sem nexo. Quer que lhe diga como se escrevem essas palavras em inglês, francês e alemão, línguas de países deveras fracos economicamente e sem importâcia mundial?
Acordem para as evidências e tirem os factos a limpo. Este acordo é sucedâneo de um falhado em 1986 e que propunha a abolição da acentuação das esdrúxulas como forma de se pouparem acentos, uma vez que os senhores por detrás do mesmo queriam lançar um dicionário em formato digital e na altura não havia suporte para acentuação! Reformas de carácter legislativo de 50 em 50 anos feitas por 3 amigos de cá e de além-mar não são sinónimo de "evolução da língua"! Até a reforma de 1911 tem água no bico e ideias falsas de "ajudar os pequeninos portugueses analfabetos", mas esta compete ferozmente pelo lugar de maior estupidez alguma vez feita a Portugal. Basicamente o Santana Lopes quis e acordou-se o bicho, e que se lixem todos os pareceres negativos de quem percebe do assunto!
Fiquem bem.
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