1. Introdução
A metodologia tem no Serviço Social segundo Maria José Núncio (2010;
113,114) a importância de
criar um corpo sistemático de práticas, que visam compreender a realidade dos
problemas do sistema cliente, das circunstâncias sociais envolventes, visando
também a teorização, que uma vez posta em prática é analisada de forma crítica
com o objetivo de corrigir e redefinir métodos para uma nova teorização
atualizada.
Os métodos clássicos são o “Serviço Social de Casos”, o “Serviço Social de
Grupos” e o “Serviço Social de Comunidades”, cujas metodologias visam em comum,
a eliminação de obstáculos, a libertação de recursos e potenciar capacidades (NÚNCIO,
2010: 114) que indo, do indivíduo até à sociedade, obtêm-se os três tipos
de metodologias, que evoluíram em dois diferentes enfoques, um de cariz
psicológico e outro comunitário, (Caparroz, 1997) centrando-se o primeiro nos
indivíduos, suas relações com outros grupos e a satisfação de suas
necessidades, o segundo enfoque centra-se nas relações na relação com grupos
e/ou relações comunitárias do sistema cliente.
O Serviço
Social de Casos, que está na génese do Serviço Social, desde os primórdios
do próprio Serviço Social (Viscarret, 2007:38), mas que tem vindo a ser muito
desenvolvido nos anos 50, (Núncio, 2010: 115), defendia uma metodologia
casuística (cada caso é um caso) e personalista (centrado na pessoa e no seu
contexto), cuja metodologia era ajudar o cliente a ajudar na solução do seu
problema, mas também conhecer e melhorar a situação do individuo no aspeto
social e familiar, combatendo a exclusão social como a pobreza, toxicodependência,
desemprego, carências habitacionais, insucesso escolar, maus tratos, violência
doméstica, delinquência, abandono e discriminação (Garcia, 2004:424).
O Serviço
Social de Grupos, visa a solução dos problemas do indivíduo num contexto de
grupo, visando também o interesse social global, esta metodologia só começou a
ser desenvolvida a partir de 1930, compreendendo que os grupos podem ajudar as
pessoas nos seus problemas, através da participação do cliente nos grupos e
comunidades, dando um sentido à vida, incentivando o cliente adquirindo
competências sociais e motivações, sendo que o Serviço Social de Grupos
centra-se em métodos psicoterapêuticos e socioeducativos (Garcia, 2004: 433),
com o objetivo de combater o isolamento, exclusão, reabilitação, aprendizagem,
orientação e informação.
O Serviço
Social de Comunidades, desenvolveu-se a partir da segunda metade do Século
XX, mas tendo sido idealizado em 1939 (Moix, 1991) muito apoiado pela ONU com o
objetivo de promover políticas sociais e melhoria das condições de vida em
países subdesenvolvidos.
2. Os Métodos Integrados no Serviço Social
Os métodos de caso, grupo e comunidades, atrás referidos, distinguiam-se pela
especificidade do cliente ou clientes, mas que a partir dos anos 60 do século
XX, desenvolveu-se um método unificador dos métodos de Casos, Grupos e
Comunidades, nascendo assim um método integrador no Serviço Social segundo
Maria José Núncio (2010:126) com o foco no conceito da intervenção, para que se
conseguisse dar melhor resposta em função dos problemas concretos.
O método integrador, almeja portanto, a solução dos problemas de forma
entrecruzada, do cliente, família, grupo e comunidade, partindo do microssocial
para o macrossocial (Núncio, 2010:127), tornando-se muito mais adequado para o
trabalhador social, mas recebendo a oposição dos conservadores do serviço
social, que obstavam as implicações de um método na realidade era integrador e
agente promotor de mudança, englobava “o que fazer” e o “como fazer”. Mas
surgiu assim a necessidade de definir modelos de intervenção no Serviço Social.
3. Os Modelos de Intervenção
Segundo Maria José Núncio (2010:127) o método integrado de Intervenção em
Serviço Social, está associado ao desenvolvimento teórico do conceito de Modelos
de Intervenção, que se
desenvolveu a partir dos anos 70 do século passado, abrangendo as componentes
teórica, metodológica, filosófica e funcional, mas não sendo exclusivamente
direcionada ao cliente, como nos métodos clássicos. (Hill, 1986) e os modelos
visam estudar, planear e determinar a ação a implementar, os objetivos
almejados, bem como os métodos e as técnicas necessárias para atingir esse fim,
(Núncio, 2010:128), sendo os principais modelos de intervenção no Serviço
Social os seguintes: Modelo
Psicossocial, que utiliza uma síntese de conhecimentos científicos da
psiquiatria, da psicanálise, da psicologia social e da sociologia, mas que
abarca os aspetos sociais, económicos, físicos, psicológicos e até emocionais,
que envolvem o processo e o problema; o Modelo
de Modificação de Conduta, baseado nos princípios do “Behaviorismo” e da teoria da “aprendizagem”,
centrado no problema/comportamento; o Modelo
Sistémico, por sua vez encara os fenómenos, não de forma individual ou de
causa e efeito, mas sim numa perspetiva de análise “totalizadora”, que engloba
além dos fatores acima referidos, os aspetos materiais, culturais e de
relacionamento, (Núncio, 2010: 132); o quarto e ultimo modelo é o Modelo
de Intervenção em Crise, com fortes raízes na Psicologia, Psiquiatria e
Psicologia Social, sendo que a crise é provocada por um acontecimento de
grandes proporções que afeta a estabilidade social e a dos indivíduos, podendo
estar relacionadas com catástrofes, ruturas emocionais, perdas materiais entre
outros acontecimentos traumatizantes, este modelo é centrado no “apoio
à vitima” baseado na proteção, aceitação, valorização e na promoção,
(Nelson, 1980).
4. O Modelo Sistémico o que é?
O Modelo Sistémico no Serviço Social, é um modelo de Intervenção em que o Trabalhador
Social tenta promover a
mudança, não de uma forma pura e simplesmente assistencialista ou linear, mas
de uma forma integradora e circular, onde é envolvida toda a componente
socioeconómica, psicológica, cultural, familiar e interpessoal do cliente.
O Modelo Sistémico, é o mais utilizado pela SCML – Santa Casa da Misericórdia
de Lisboa, e em Instituições como a Centro de Medicina e Reabilitação de
Alcoitão (CMRA), conforme refere o site daquela instituição.
A gravura na página anterior, é o exemplo da aplicação do Modelo Sistémico, num
Centro de Medicina de Reabilitação, onde se afirma que um sistema é um conjunto
de elementos em interação dinâmica, organizados e com um objetivo definido.
Por aferição, posso deduzir que temos pois no Modelo Sistémico, como o próprio
nome indica, um sistema de interação global, de todos os aspetos e
interdependências da vida do cliente, não sendo por acaso que algumas
instituições de Solidariedade Social, como a CMRA e os seus/as suas assistentes
sociais utilizam o modelo Sistémico como a sua praxis profissional, ou por
outras palavras trata-se de um Serviço Social Moderno voltado para uma
metodologia epistemológica, rompido que está o passado do assistencialismo, e
consolidados os valores de uma Ação Social baseada no estudo científico e no
rigor da sua da ação humanista e integradora.
5. Conclusão
A dimensão Teórica da Modelo Sistémico –
Deixa de encarar o problema, como algo individual, defende uma relação de
causalidade circular na compreensão dos problemas, tendo em conta todos os
fatores envolventes da vida do cliente seja o indivíduo, o grupo ou a
comunidade.
A dimensão Metodológica – Centra-se na entrevista sistémica, na
neutralidade do trabalhador social e na circularidade da analise do grupo,
sendo que aí o processo de ajuda, é baseado não no conflito individual, mas sim
só é possível a intervenção quando se deteta o conflito de uma relação.
A dimensão Filosófica – A filosofia deste modelo é a reintegração
do cliente de forma a que um dos elementos da relação que sofra uma mudança,
irá afetar positivamente todo o grupo, quantos mais elementos forem sendo
modificados mais efetiva será a transformação da realidade do conjunto.
A dimensão Funcional – Tendo sido feita a análise circular do problema por todos as
interdependências relacionadas entre si, o Trabalhador social desenvolve
hipóteses para a solução do problema tendo em vista induzir à mudança. A
mudança por sua vez, ocorre no todo e não numa das partes, sendo deste modo
mais eficaz uma mudança global que uma pequena mudança parcial.
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Bibliografia Consultada:
Núncio,
Mª. José (2010) Introdução ao Serviço Social – História, Teoria e Métodos,
Lisboa, ISCSP.
Carmo,
Hermano (2002) Intervenção Social com grupos, Lisboa, Universidade Aberta.
Autor Filipe de Freitas Leal
Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.