'Dois sonetos de Amor da Hora triste', um poema que ficou imortalizado na memória dos portugueses, escrito pelo poeta Álvaro Feijó, (1916-1941), nascido em Viana do Castelo; cedo se fez poeta, e também cedo partiu, tinha apenas 25 anos de idade, morreu de doença prolongada em Lisboa, e deixou-nos o seu legado, a sua poesia e sensibilidade pelo estilo neorrealista que caracterizava à época, os grandes vultos da literatura. Tendo publicado apenas um livro em vida, 'Corsário' (1940), foi no entanto agraciado com uma obra póstuma, no mesmo ano da sua morte, 'Poemas de Álvaro Feijó' no qual consta o presente poema.
Quando eu
morrer, e hei-de morrer primeiro
do que tu - não deixes fechar-me os olhos
meu Amor.
Continua a
espelhar-te nos meus olhos
e ver-te-ás
de corpo inteiro
como quando
sorrias no meu colo.
E, ao veres
que tenho toda a tua imagem
dentro de
mim, se, então, tiveres coragem,
fecha-me os
olhos com um beijo.
Eu, Marco
Pólo,
farei a
nebulosa travessia
e o rastro
da minha barca
segui-lo-ás
em pensamento. Abarca
nele o mar
inteiro, o porto, a ria...
E, se me
vires chegar ao cais dos céus,
ver-me-ás,
debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.
II
Não um adeus
distante
ou um adeus
de quem não torna cá,
nem espera
tornar. Um adeus de até já,
como a
alguém que se espera a cada instante.
Que eu
voltarei. Eu sei que hei-de voltar
de novo
para ti, no mesmo barco
sem remos e
sem velas, pelo charco
azul do
céu, cansado de lá estar.
E viverei
em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero
que chores para fora,
Amor, que
tu bem sabes que quem chora assim,
mente.
E, se
quiseres partir e o coração to
peça, diz-mo.
A travessia é
longa... Não atino talvez na
rota.
Que nos importa, aos dois, ir sem destino.
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