Foi em 1974, que ocorreu o acontecimento que mudou
o rumo de Portugal, que acabou com o Império Colonial e lançou as bases para o
desenvolvimento, da democracia, da descolonização e do progresso
socio-económico, enfim criaram-se as condições de um país que queria abrir-se
ao Mundo num abraço fraterno, solidário e livre.
É ainda hoje discutível se esses
objetivos poderiam ou não ter sido alcançados sem um golpe de estado,
cujas consequências posteriores, advindas de uma descolonização mal
feita, que afetou muitos portugueses, que viviam então na África portuguesa, ou
por outras palavras, os historiadores procuram hoje, saber se o que causou o 25
de Abril foi o falhanço da Primavera Marcellista e o continuar de uma guerra
colonial, que se acredita, só poderia ter tido uma solução politica e não
militar como propunha o General António de Spínola no seu livro "Portugal
e o Futuro" editado em fevereiro de 1974.
O 25 de Abril é o nome dado à Revolução dos
Cravos, um movimento militar que com um Golpe de Estado, derrubou em menos de
24 horas um Regime de Cariz Fascista que durou 48 anos, sendo que desses, 4
anos foram em Regime Militar, 38 sob o governo de António de Oliveira
Salazar, que após a doença fora afastado em 1968 e substituído por
Marcello Caetano, que veio a ser deposto com a revolução e exilado no Brasil,
onde veio a falecer em 1980.
Na madrugada de 25 de Abril, a música "E Depois do Adeus" de
Paulo de Carvalho, é transmitida pelos "Emissores Associados de
Lisboa" e é a primeira senha da Revolução, indicando a saída das tropas
para culminar no movimento dos Capitães de Abril, por outro lado a segunda
senha confirmava a Revolução, era a música "Grândola Vila Morena" de
Zeca Afonso, que fora transmitida dos estúdios da Rádio Renascença,
ocupada pelos militares.
O comando do golpe estava situado na Pontinha
em Lisboa, e sob a direção de Otelo
Saraiva de Carvalho, enquanto as operações nas ruas de Lisboa foram
dirigidas por outro importante líder o capitão da Infantaria de Santarém, Salgueiro
Maia, que avançando sobre Lisboa tem a missão de ocupar o Terreiro do Paço
e o Quartel do Carmo onde se refugiara o Presidente do Conselho. A
História fez deste último, um exemplo de abnegada missão em prol do seu país,
um homem que viu nessa revolução a sua missão de libertação do País sem querer
para si protagonismo ou honras, voltou humilde aos quartéis, tendo morrido
ainda novo, pobre e esquecido pelo país que ajudou a libertar, chegou a ver-lhe
negada durante o governo de Cavaco Silva, uma pensão que solicitara por motivos
de doença.
O reconhecimento pelos seus préstimos ao país
e à sua missão libertadora, resume-se a uma singela lápide no chão do Largo do
Carmo, lugar onde se consumou a abertura de Portugal à liberdade de pensamento,
expressão e associação política para todos os portugueses.
Abril é um espírito que influenciou outros
povos no mundo, o Brasil vivia num regime militar desde 1964, e Chico Buarque de Holanda,
compôs uma música para homenagear a Revolução dos Cravos, com o titulo "Tanto Mar"; O Chile vivia na ditadura de Pinochet, que tinha derrubado o socialista Salvador Allende em 1973 a 11 de setembro, o 25
de Abril foi um exemplo para o mundo de uma revolução sem sangue, sem vingança
e ódios, mas acima de tudo libertou Portugal e os portugueses, permitindo que
todos os quadrantes políticos se organizassem livremente, da esquerda à
direita, como os socialistas do PS de Mário Soares, dos comunistas do PCP de
Álvaro Cunhal, passando pelo MDP/CDE Movimento Democrático Português de
Francisco Pereira de Moura, o PPD Partido Popular Democrático de Sá
Carneiro ou ainda o CDS Centro Democrático Social de Freitas do Amaral,
correntes políticas que participaram no dia 25 de Abril de 1975 na primeira
eleição livre para a Assembleia Constituinte, que fez nascer a
constituição de 1976. Tendo sido consagrados o PS e o PPD como as principais
forças políticas da democracia portuguesa. Panorama que se mantêm ainda hoje.
Mas também foi o reconhecimento do direito à
Auto-determinação dos povos africanos sob administração portuguesa, como
Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, embora
o programa da descolonização tenha sido mal conduzido o que gerou graves
injustiças e conduziu à Guerra Civil as força politicas em Angola, tendo ainda
permitido que todos os países de língua oficial portuguesa caíssem
numa ditadura comunista.
Passados estes anos todos, muito se dissipou
do espírito de abril, pondo de parte os exageros do verão quente de
1975 durante o governo de Vasco Gonçalves, esquecendo também a febre
esquerdista, e do radicalismo ideológico desse tempo, (normal
e compreensível para um povo que viveu quase 50 anos em regime de
ditadura) foram muitas no entanto as conquista politicas, sociais e culturais
do 25 de abril, no que toca aos direitos humanos, à justiça social, à educação,
à saúde entre outros aspetos.
No entanto, os novos paradigmas vindos da
globalização, da influência cada vez maior da economia, sobre a política e a
sociedade, especialmente das grandes empresas multinacionais, que põe por terra
as boas intenções políticas de qualquer governo.
Hoje os tempos são outros, e são outros os
desafios, o que abril derrubou e o que abril conquistou já está ultrapassado,
novas lutas surgem, novos problemas se levantam contra as populações, problemas
como a nova exclusão social e de integração, novos problemas de habitação,
novos tipos de desemprego, sobretudo de licenciados que emigram, problemas humanitários,
ecológicos, enfim não é só a liberdade que conta, mas a qualidade de vida das
populações, o projeto para as gerações futuras, a sustentabilidade social e
económica do país e das suas gentes, bem como a sustentabilidade do mundo, das
economias e dos povos nos regimes ditos democráticos esse sim é o desafio, por
outras palavra o desafio hoje, e o que o espírito de abril hoje nos diz e pede
é claramente uma visão Humanista.
Autor Filipe de Freitas Leal
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