É com
tristeza que soubemos do incêndio que deflagrou na Catedral de Notre Dame de
Paris, a Gótica Catedral que fora erigida no século XII, parecendo-me ser um mau presságio para a
cultura e a civilização europeia e cristã. O incêndio ocorreu às vésperas da
Páscoa cristã e das eleições europeias, num período conturbado da história
francesa e da civilização europeia, precisamente no coração da cidade Luz, que
hoje parece começar a apagar-se no século XXI. Não é pelo incêndio em si,
mas pela perda do que Notre Dame representava com toda a sua simbologia.
Caiu
em chamas o Pináculo da Catedral que permaneceu de pé, tal como esteve de pé
durante nove séculos, e viu de pé o Rei Sol; foi a mesma que viu surgir a
Revolução Francesa e a carta dos Direitos do Homem e do Cidadão, e na qual foi
coroado Napoleão Bonaparte; viu ainda a Revolução Industrial transformar o país
e a Europa, mais tarde, resistiu de pé e teimosa à invasão da Alemanha nazista
e o desfile de Hitler, mas também viu o fim da II Guerra e o triunfo da
democracia.
Testemunhou
ao longo de séculos, as dores do seu povo e o triunfo dos seus líderes, mesmo
dos que só lideraram na rua como na Revolução de Maio de 1968, a mesma Catedral
que viu o auge de De Gaule e mais tarde a sua renúncia, a mesma que testemunhou a independência da Argélia e o retorno dos "Pieds noir".
A
Senhora de Paris que se erguia alta e parecia dizer-nos que o seu tempo era a
Eternidade, que foi sempre olhada orgulhosamente por toda a cidade luz e amada por todos,
tanto franceses como estrangeiros, dos quais sobressaem Picasso com a sua
famosa "Guernica" exilada em Paris, outros tantos pintores, cantores
e escritores como Scott Fitzgerald ou Ernest Heminguay que retratou o ambiente
da cidade que pare ele foi sempre uma festa. Hoje a luz das chamas apagou-se, e
com ela o brilho da cidade luz, no lugar da festa dos tempos de Heminguay sobra
a tristeza de um continente inteiro. Talvez este incêndio venha servir para
acordar os franceses e os europeus para repensarem o caminho que querem
trilhar, afinal apesar do incêndio Notre Dame está de pé para relembrar os seus
900 anos.
Autor Filipe de Freitas Leal
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