Os valores são fundamentalmente, o alicerce cultural de um povo e de uma civilização, pelo que de igual modo,
esses valores que também estão relacionados com os princípios, usos, costumes e
tradições, são flexíveis e modificam-se no tempo, de geração em geração e no
espaço, variando entre continentes e países.
Durante milénios, a
evolução técnica da humanidade foi muito lenta, nomeadamente nas regiões abaixo
da linha do Equador, onde as populações locais, salvo raras exceções, encontravam-se ainda num
estágio igual ao “neolítico” à altura dos descobrimentos europeus (portugueses,
espanhóis, ingleses e franceses), inclusive, no que foi o berço da civilização ocidental e da hegemonia europeia, (que emana diretamente da civilização judaico-cristã), a evolução das técnicas era algo moroso e o progresso cientifico, como o entendemos hoje, demorou a chegar.
Foi preciso chegarmos ao fim do século XVIII, para que tudo se alterasse, tal
como sugere Alvin Toffler nos seus livros, “A Terceira Vaga” e o “Choque do
Futuro”, no qual foi substituída a Revolução Agrícola (primeira vaga) pela Revolução Industrial (segunda vaga), provocando mudanças estruturais drásticas, tanto na organização
social como familiar, com essas mudanças, as famílias alargadas deram espaço às
famílias nucleares, de pai, mãe e filhos, e modificaram drasticamente o 'modus vivendi', a
solidariedade típica da família alargada, deu lugar à competitividade
dentro da fábrica; o êxodo rural do campo para a cidade, deu lugar a uma massa
de operários formada por hordas de deserdados do campo, que se tornaram migrantes que tiveram de abandonar as suas raízes, deixando para trás a sua terra natal e os laços familiares.
Essa realidade foi acompanhada por um alto índice de acidentes laborais e de mortalidade prematura devido às más condições de vida, e não raras vezes o desespero levava a que algumas pessoas pusessem termo à própria vida, como relatado em "O Suicídio" estudo sociológico de Émile Durkheim, dando lugar a uma enorme massa de órfãos, que serviam para mão de obra barata nas fábricas nascentes, era esse o valor da vida, e deram à nova sociedade do industrialismo o matiz cinzento que perdurou até ao fim da primeira metade do século XX, que John Kennett Galbrith bem descreve no seu livro, “A Era da Incerteza”.
Estávamos num mundo politicamente dominado pela civilização ocidental do eixo Europa e Estados Unidos da América, com uma mentalidade conservadora, assente no cristianismo, por um lado do catolicismo nos países latinos e do protestantismo nos países anglo-saxónicos e nórdicos, onde os valores e os princípios estavam ligados à teologia e à inegável influencia da Religião na economia e na política. Mas onde à exceção da Pena de Morte, o aborto, o adultério, o divorcio eram condenados e onde a homossexualidade era reprimida, bem como o papel da mulher fora relegado a um lugar secundário desde o apogeu da Revolução Industrial e só nos meados do século passado conquistou paulatinamente o seu lugar na sociedade (à exceção dos países muçulmanos).
O período que vai de meados do século XIX ao inicio do século XX, deu lugar ao movimento sindicalista de Karl Marx e ao Manifesto do Partido Comunista, a um conjunto de perturbações politicas e crises sociais; pelo meio o Papa Leão XIII redige a encíclica, 'Rerum Novarum' revelando a posição da Igreja sobre a questão social e laboral da época, à luz dos valores bíblicos; por fim, surgem as revoltas do proletariado que deram origem em 1917 ao Regime Comunista soviético, mas até nesses regimes os valores eram conservadores, a vida valia pouco (entre 1922 e 1952 foram mortos no regime Estalinista cerca de 14 milhões de pessoas) pelo que só mudava a terminologia. Mas o mais visível e bárbaro exemplo do valor da vida foi sem sombra de dúvida o Holocausto do III Reich, do regime nazista, onde foram mortos 6 milhões de judeus em campos de concentração e câmaras de gás espalhados pela Europa durante a Segunda Grande Guerra; o que se valorizava era humilhar e infligir dor e sofrimento ao seu semelhante, revelando que a vida do 'outro' pela sua diferença não teria qualquer valor.
Essa realidade foi acompanhada por um alto índice de acidentes laborais e de mortalidade prematura devido às más condições de vida, e não raras vezes o desespero levava a que algumas pessoas pusessem termo à própria vida, como relatado em "O Suicídio" estudo sociológico de Émile Durkheim, dando lugar a uma enorme massa de órfãos, que serviam para mão de obra barata nas fábricas nascentes, era esse o valor da vida, e deram à nova sociedade do industrialismo o matiz cinzento que perdurou até ao fim da primeira metade do século XX, que John Kennett Galbrith bem descreve no seu livro, “A Era da Incerteza”.
Estávamos num mundo politicamente dominado pela civilização ocidental do eixo Europa e Estados Unidos da América, com uma mentalidade conservadora, assente no cristianismo, por um lado do catolicismo nos países latinos e do protestantismo nos países anglo-saxónicos e nórdicos, onde os valores e os princípios estavam ligados à teologia e à inegável influencia da Religião na economia e na política. Mas onde à exceção da Pena de Morte, o aborto, o adultério, o divorcio eram condenados e onde a homossexualidade era reprimida, bem como o papel da mulher fora relegado a um lugar secundário desde o apogeu da Revolução Industrial e só nos meados do século passado conquistou paulatinamente o seu lugar na sociedade (à exceção dos países muçulmanos).
O período que vai de meados do século XIX ao inicio do século XX, deu lugar ao movimento sindicalista de Karl Marx e ao Manifesto do Partido Comunista, a um conjunto de perturbações politicas e crises sociais; pelo meio o Papa Leão XIII redige a encíclica, 'Rerum Novarum' revelando a posição da Igreja sobre a questão social e laboral da época, à luz dos valores bíblicos; por fim, surgem as revoltas do proletariado que deram origem em 1917 ao Regime Comunista soviético, mas até nesses regimes os valores eram conservadores, a vida valia pouco (entre 1922 e 1952 foram mortos no regime Estalinista cerca de 14 milhões de pessoas) pelo que só mudava a terminologia. Mas o mais visível e bárbaro exemplo do valor da vida foi sem sombra de dúvida o Holocausto do III Reich, do regime nazista, onde foram mortos 6 milhões de judeus em campos de concentração e câmaras de gás espalhados pela Europa durante a Segunda Grande Guerra; o que se valorizava era humilhar e infligir dor e sofrimento ao seu semelhante, revelando que a vida do 'outro' pela sua diferença não teria qualquer valor.
Com o fim da II
Guerra Mundial e a derrota do ideal nazi-fascista da Alemanha de Hitler e da Itália
de Mussolini, bem como as novas tecnologias que vinham sendo desenvolvidas na
área das comunicações, alteram a pouco e pouco os valores, os usos e os
costumes, mas também altera-se o modo como os empresários, economistas e políticos
vêm e exercem a sua função, porque antes de serem empresários e políticos, são
gente da sua nação, antes de tudo são pessoas e cidadãos, que levam para o
poder, para os negócios e para a academia, os valores da sua época, por vezes
mais fortes que os seus ideias, mas quase nunca, tão fortes quanto a sua
crença.
Um das mudanças, foi sem dúvida a crescente influencia da opinião
pública nos destinos do país, a crescente influência dos serviços na economia
face à indústria que se viu suplantada em 1955 e à crescente influencia das
comunicações e da informação na nova economia global, por forma a fazer face às
necessidades geopolíticas.
A nova ordem nascida
dos escombros da II Guerra Mundial, deu a primazia dos Direitos Humanos,
abrindo espaço para a autodeterminação dos povos, para a posterior revolução
sexual, e para mudanças bruscas na sociedade, as mulheres conquistam paulatinamente
a igualdade (embora mantenham-se nos países desenvolvidos graves diferenças
salariais absurdas até aos dias de hoje), alguns anos mais tarde, surgiria a
revolta estudantil do Maio de 68 em França, uma revolução sem programas, em que
na verdade era uma revolta contra a cultura vigente, não foi uma revolta para
derrubar o regime político. Mas muitos dos valores que só mais de 20 ou 25 anos
começaram a surtir na Europa são fruto do descontentamento dessa geração, e
nascem dos movimentos hippie, Maio de 68 e da Nova Esquerda que idolatra ainda
hoje Che Guevara. Pelo meio houve a revolução tecnológica que apanhou desprevenida a população dos anos 70 e 80 do século passado, ou reciclavam o seu saber técnico ou sucumbiam como inadaptados, acabando por gerar a chamada info-exclusão.
Com o tempo, e na
boca das urnas, a sociedade, foi progredindo, com o Wellfare State, os apoios
sociais, a Igreja e a religião de modo geral, foram afastadas da vida politica
e civil, serve mais para consolo e embelezamento das cerimónias de matrimónio e
funeral do que propriamente de fé. A fé, essa foi relegada para o novo
consumismo, o novo-riquismo, e para ideologias que deram espaço a uma enorme e
variada série de conquistas, uma após outra, em vários países, como a conquista
do Aborto. E é precisamente aqui, que está a contradição do valor da vida.
Em Portugal, no ano
de 2007, realizou-se um referendo para a despenalização do aborto, e o discurso
manipulador dos que defendiam o Sim, era que que as pessoas que abortassem por
serem pobres, não deveriam ser presas, a população votou no Sim, mas não sabia
na sua maioria que esse sim, significava na verdade a Liberalização total do
aborto, o que é algo bem diferente da despenalização.
O curioso é que uma
civilização, que atingiu após muito sofrimento e esforço, o auge da qualidade
técnica e da qualidade de vida, onde o Welfare State, conseguiu dar o melhor apoio possível para que uma pessoa seja acolhida e cuidada, tenha chegado hoje no entanto, a preferir dar valor ao fim da vida. Precisamente e de forma antagónica a civilização
agrícola não abortava porque precisava de gente para o trabalho, a civilização
industrial precisava de força braçal, para as fábricas, e hoje ao contrário, a
civilização da informação e das comunicações, dá lugar ao direito à morte, à
morte de um feto, ao qual crê ter sobre ele o poder absoluto de decidir a sua
vida, à morte pelo suicídio, à morte pela eutanásia, à defesa da pena de morte contra
os delinquentes, que aliás são outro fruto das injustiças sociais e das más
políticas de defesa e segurança pública (que mais premeiam o lobby da industria
das armas nos EUA) e por fim é uma civilização em que o valor da vida, está
assente no ter, no parecer e não no ser.
A nova civilização da cultura da
Morte é uma civilização cujas catedrais de culto são os centros comerciais para o culto do consumo, e as redes
sociais repletas de discursos de praxe, disfarçados de 'Direitos', todavia, desprovidos
de deveres, onde se grita sem conhecimento de causa a legalidade da morte em todas as
suas formas, sendo que hoje, têm à mão todos os recursos necessários para se
responder às necessidade para a vida das pessoas, de grupos e comunidades em
situação de crise. Há que pensar que civilização queremos deixar para os nossos
filhos e netos, há que definir de facto, os valores, se os do passado não
serviram devidamente a dignidade das pessoas, que os novos valores o façam, mas
se estamos vivos, e se há um planeta vivo, a nossa opção, politica, económica,
social e cultural têm de estar focadas na defesa da vida, e na consciência que
a solidariedade não é um dom de alguns mas um dever de todos, porque o Humanismo é acima de tudo, defender a Vida, e a vida plena.
Autor: Filipe de Freitas Leal
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