O
Judaísmo, não é meramente uma religião, e nem apenas marcada por dogmas profundos, no judaísmo não se
define a divindade, e a vida e o post-mortem não são o centro do
judaísmo, o que faz esta religião ser tão especial, é que do seu cunho surgiu a filosofia do Humanismo, e também as duas grandes religiões monoteístas, da revelação ou do livro, o Cristianismo e o
Islamismo, o judaísmo não é mera filosofia de vida, é fundamentalmente a
religião de um povo que não definindo D-us, conhece-o e relaciona-se com Ele de
um modo peculiar de geração em geração, séculos após séculos, com uma
verdadeira devoção a um D-us, que não pode ser definido nem representado por
imagem alguma, a não ser pela imagem do amor que tem para com seu Povo.
A
oração judaica mais conhecida, é por excelência a melhor definição do que é o
judaísmo e de quem são os judeus, ou qual o seu propósito, o "Shmáh Yisrael" que diz "Ouve
Ò Israel, o Senhor é o teu D-us, o Senhor é Um", e continua, “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração,
com toda a tua alma e com toda a tua mente”, o que equivale a dizer que a fé em
D-us dá-se não só pela adesão, mas uma adesão completa de corpo, mente e
espírito.
A
aliança com Abraão e os Patriarcas. (1800-
AEC)
O
Judaísmo יהדות é a primeira religião monoteísta
da história, foi a partir de Avraham que o Senhor D-us fez uma
aliança, a chamada "Aliança Abraamica", foi então que D-us fez de um
só homem, a partir de Ur na Babilónia disse a esse homem para sair de sua terra
em direção a Canaã, a Terra Santa, e dele fez um povo numeroso que seria e é o
"Povo Eleito", daí pai de nações é o significado do seu nome, devido
ao facto de ser o patriarca das três grandes religiões da revelação, chamadas
de religiões Abraamicas, ou monoteístas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão,
em Abraão encontram-se Moisés, Cristo e Maomé.
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Abraão fala com os anjos |
Mas o
mais curioso é que Abraão e Sara não conseguiam ter filhos, e Abraão duvidava,
até que teve um filho com a escrava da sua mulher Agar e nasceu Ismael, mas o
Senhor não queria assim, quis sim um filho legitimo vindo de Sara que foi mãe
aos 90, Abraão foi pai aos 100, e a Aliança dizia que aos 8 dias o menino e
todo o varão do clã de Abraão teriam de ser circuncidados, daí o nome do filho
é Isaac יצחק, que junta os
números cabalísticos 100, 90 e 8 da raiz do verbo rir. No entanto D-us
testa a fidelidade de Abraão, e após mandar expulsar para o deserto Ismael e
sua mãe, pede o sacrifício de Isaac, e vê a sua fidelidade absoluta, dando-lhe
em troca um cordeiro sacrificial, daí vem a tradição hebraica de sacrifícios no
templo, contrastando com os outros povos bárbaros que cometiam infanticídios e sacrifícios
humanos em nome de deuses falsos.
O
cativeiro no Egito e o Êxodo. (1650-1260
AEC)
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Moisés abre as águas do Mar Vermelho |
Após
Abraão, Isaac foi pai de Jacob que o
anjo mudou o nome para Israel, este de 12 filhos dos quais se formariam as
dose tribos de Israel, seus filhos são Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali,
Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim e uma filha Diná.
José יוֹסֵף, através do qual o clã desceu ao
Egito, onde o povo acabou por viver em cativeiro por 400 anos, como havia sido dito
pelo próprio D-us a Abraão. É no cativeiro do Egito, que nasceu um líder que os
irá libertar Moisés, que se revoltando descobre as suas origens hebraicas e
de ter sido salvo das águas de um rio por uma princesa egípcia de nome Seth.
Vai
para o deserto e de lá casa, tem filhos até que D-us o chama no cume do monte
do Monte Horeb, onde D-us o nomeia libertador do povo hebreu.
Após as
sucessivas investidas de Moisés e Araão, e as pragas de D-us culminaram na fuga
do povo hebreu do Egito, através do mar Vermelho o povo pisou chão seco e o
atravessou em direção a 40 anos no deserto.
Nesse
tempo Moisés dá a partir do Monte Sinai, os 10 primeiros dos 613 mandamentos da
Toráh, que é a Instrução do judaísmo, e criou-se o Tabernáculo, ninguém daquela
geração entrou na Terra Santa.
A
Conquista da Terra Santa e os Juízes (1200-1055
AEC)
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Conquista de Jericó |
Após a
conquista gradativa da Canaã, com o seu líder Josué e o seu desaparecimento,
criou-se um vazio, pois não havia uma unidade nacional, o país estava dividido
em 12 tribos, liderados por seus próprios Patriarcas, tendo apenas a religião,
a língua e as tradições culturais como ligação, cada tribo tinha os seus Juízes, que
eram homens santos ligados à Religião e à observância da Toráh bem como aos
sacrifícios no Tabernáculo.
Mas o
povo, entendeu que só uma monarquia forte, como tinham os países vizinhos, e
portanto um Rei que os unisse, é que lhes poderia proporcionar vitórias,
conquistas e paz.
Assim o
Juiz Samuel nomeou
Saul da tribo de Benjamin como
o primeiro Rei de Israel unificado.
O Reino
Unificado de Israel (1055-931
AEC)
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"Saul arremessa lança contra David" por George Tinworth
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Uma vez
coroado Samuel, começa a governar Israel e o conduz em vitórias, mas começou a
entrar em decadência ao cometer transgressões no seu reinado, que o levaram a
perder a graça divina, ao invés de se reabilitar Saul cometeu pecados mais
graves que acabaram por lhe custar a vida na sua ultima batalha, e lançar o
pais na Guerra Civil pela sucessão, opondo o filhos de Saul a David, este
último já havia sido nomeado por Samuel, para o substituir, e só assumiu o
Reinado de Israel após a morte de Isboset I, filho de Saul.
O
reinado de David foi dos mais notáveis da História de Israel, conquistando
Jerusalém e fazendo dela a Capital do Reino de Israel, no entanto não Conseguiu
construir o Templo, o que só foi realizado por seu filho Salomão, rei
de grande sabedoria.Foi um rei amado por muitos, tanto de Israel como de reinos
vizinhos, Construiu o 1º Templo de Jerusalém, mas também cometeu pecados por
ter casado com mulheres estrangeiras.
Divisão e Cativeiro (931-586 AEC)
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No fim do reinado de Salomão, o Reino divide-se entre
Israel e Judá, com diversos reinados e guerras civis encarniçadas, pelo meio o
pecado da idolatria, e o castigo seria o Cativeiro da Babilónia e Assíria, o
cativeiro teve um impacto enorme na vida e religião do povo Israelita, pois
tiveram que adaptar a praticar a religião sem o Templo que fora destruído a 9
de Av, daí o jejum de Tesha
BeAv. A toráh foi o grande alicerce do povo
judeu no exílio. Desse tempo muitos relatos saíram para a Tanakh, como o livro
de Ester, o profeta Daniel entre outros livros e histórias que marcaram o povo
judaico nesta fase. O que marcou este período foi o aparecimento anterior à
conquista de Nabucodonossor, dos profetas que, avisavam e profetizavam o que
poderia acontecer, se Israel não se arrependesse de pecar pela Idolatria e
desobediência, uma outra consequência do Cativeiro da Babilónia foi a diáspora,
e separação de muitos judeus e 10 das doze tribos. Um dos Profetas ditos
maiores dessa época, foi Daniel, ele que até hoje tem profecias que se
cumpriram no fim dos Tempos.
O
Período do Segundo Templo (450 AEC a 70 EC)
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Templo de Herodes |
Este
período Relata, desde a Reconstrução do Templo por Neemias, até à Destruição do
Segundo Templo feito por Herodes, já no ano 70 EC pelos Romanos. Passando Claro
pela colonização Helénica de Alexandre o Grande.
Os
judeus estavam ansiosos por independência, haviam sido colonizados
sucessivamente por vários povos uns atrás dos outros, esperavam pois por um
líder Religioso que libertasse o país e o conduzisse à prosperidade, daí a
espera no Messias. Foi
uma época rica do ponto de vista filosófico e teológico, tais como o Rabbi
Hillel, contemporaneo de Jesus Cristo, e surgiram também muitos
movimentos como os zelotas, Essénios entre outros.
A
Diáspora e o novo judaísmo (70-1500
EC)
Com o
fim das guerras Romano-Judaicas, e a Derrota de Bar Kocbah, nasce
uma nova Diáspora. O massacre de "Massada", os milhares de judeus
crucificados, e um povo sem templo, partem por expulsão para o exílio em todas
as partes do mundo. Os judeus até então compreendiam grupos como os Fariseus,
Essénios, Zelotes, Saduceus, nasce o judaísmo caraíta, e vêm nascer no judaísmo
os Nazarenos, que se dividiram em Paulinos e Ebionitas, mas acabaram por se
separar do judaísmo recusando lutar ao lados dos judeus na defesa do Templo,
pois afirmavam que Jesus tinha previsto tal facto.
O
apogeu do cristianismo deu-se com a aceitação de gentius e a simbiose de outras
doutrinas como a religião pagã dos romanos entre outros. O que facilitou a
igreja a tomar atitudes antissemitas e perseguir os judeus mas também os
cristãos que praticassem as leis da Toráh tais como Shabat, alimentação kosher,
Pessach etc.
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Saque do Templo |
A
partir daqui, a extinção de Essénios e Zelotas, e a separação dos
Nazarenos, os judeus do grupo dos Fariseus é que tomam conta do judaísmo na
Diáspora.
Surge
doravante a reforma do judaísmo, que se faz pelo chamado judaísmo talmúdico, os
cristãos e os judeus separam-se definitivamente da fé judaica, no ano 70 EC (da
era comum), no Ano de 150 EC, a revolta de Bar Cokba, termina em tragédia no
cerco de Massada, Jerusalém é destruída e seria sucessivamente ao
longo da História ocupada e reocupada por vários povos, que deixaram sempre à
margem o povo judeu, obrigado à exclusão, os judeus são expulsos da
sua própria terra, uma vez convertido o Império Romano à nova
religião monoteísta, surgirá a prática do antissemitismo, que se prolongará no
longo tempo nebuloso da História humana, por mais de 1900 anos, não tendo no
entanto conseguido surtir o efeito desejado, da eliminação do povo judeu ou simplesmente
da sua fé inabalável em D-us.
O Muro das lamentações tornou-se o símbolo que testemunhou a perseverança,
a garra e a fé viva de um povo, que perpetuou na História o seu nome, por mais
pequeno que fosse o seu numero, na contagem total dos povos e religiões da
Terra, um povo que viu nascer e cair impérios, do Egito à Babilónia, da Grécia
a Roma, entre tantos outros como o Império Otomano, caíram
impérios e caíram regimes, das monarquias absolutas e dos seus pogroms, ao
fascismo, ao Nazismo e Comunismo, todos caíram, mas os judeus estão de pé, permanecem,
no ato continuo e atuante da história que D-us lhes confiou, e ainda assim
soube responder ao antissemitismo, sobressaindo-se,
tendo contribuído para a Humanidade dando, o seu melhor, em todas as
áreas do saber, da ciência e das artes. O Humanismo é um cunho ténue mas
permanente no coração da Toráh, e é uma prática que se sobressai na
solidariedade que os judeus ao longo de dois mil anos aprenderam a estender a
mão (Ten Yad) aos seus e também ao próximo com o anseio da Paz e da Tolerância.
Autor Filipe de Freitas Leal
Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.