Quando
um escritor morre, deixa-nos tristes, e com uma sensação de termos ficado mais pobres, embora
herdando a riqueza do conjunto da sua obra, normalmente quando alguém que gostamos
muito morre, até os dias ficam nublados, cinzentos e chuvosos.
No
entanto quando eu soube da noticia de que Umberto Eco morrera aos 84 anos, estava um lindo dia em Lisboa, havia o frio de inverno mas com sol,
luz e cor, talvez fosse assim que o autor de O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault (os seus livros mais famosos) desejasse partir, num dia onde todos os lugares houvesse bom tempo, um belo
dia, e no lugar da angústia e da perda, sobressaísse a luz da gratidão pela importância que teve, e não
apenas pelos seus livros, mas também pelo seu pensamento como contributo para repensarmos a Europa, a cultura e a língua como instrumento social e reflexo do simbólico que ele nos revelou.
O
pensamento genuíno e lúcido do escritor, filósofo e linguista Umberto Eco, foi um
pensamento de um homem que não poderia ser um Eco do que os outros diziam ou
pensavam, ele foi na realidade o eco do seu próprio pensamento e a voz dos
atores do passado histórico, que conviveram com a paz e a guerra, o profano e o sagrado, o mito e
o simbólico, e tudo isso em retratado nos seus livros, em artigos de revistas, em
entrevistas e em conferências nas quais revelava a alma da Europa tal como a via.
Li uma
das suas entrevistas, na qual debruçava-se sobre a questão das migrações, e em
particular do movimento migratório dos refugiados sírios, e não me esquecerei o
modo lúcido como abordou o tema, dizendo que não estamos habituados a que haja
migrações, mas a Europa é toda ela o resultado de vária migrações ao longo de
milénios, e afirmou ainda que a Europa está a mudar de cor, será uma Europa
morena, e haverá uma nova cultura que suplantará a nossa cultura atual, que já
de si, não é a mesma do tempo dos nossos pais ou avós. Todo este processo é
normal, traumático, natural e inevitável.
As suas
citações também foram famosas pelo mundo fora, e sobretudo expandiram-se pelas redes sociais, tais como “O
mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê".
Umas
das mais interessantes e curiosas citações de Umberto Eco é referente aos
judeus, onde diz que se trata de um povo inimigo dos imbecis: “Os judeus são os guardiões da civilização do livro e da cultura, e ainda que não
vivamos mais nos tempos de Rothschild e que muitas diferenças na sociedade
contemporânea sejam menos acentuadas, as diferenças deixaram sua marca. Por
isso, seria difícil para os imbecis encontrar um inimigo melhor. O judeu serve
para aqueles que sofrem de uma identidade fraca, ontem como hoje”.
Abaixo livros de Umberto Eco.
O Nome da Rosa
O Pêndulo de Foucault
Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.