Porque a autocracia está a ganhar terreno, face aos valores
democráticos ocidentais, qual a razão, será cíclica? tal como há cem anos
atrás, quando então surgira, a partir do fim da primeira década do século XX em
quase toda a Europa o avanço do Fascismo.
Desde a II Grande Guerra Mundial, que o Direito Internacional
não havia sofrido tamanho desrespeito, com a prisão do Diretor chinês da
Interpol Meng Hongwei, detido na China, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, foi assassinado dentro do consulado saudita na Turquia, e
os avanços e recuos no teatro de guerra sírio, tem servido apenas para um jogo
de tabuleiro geoestratégico, com um alto preço pago pelas centenas de milhares
de vitimas inocentes.
No tabuleiro da Política Internacional, o ocidente perde terreno
para os países fora do eixo dos Estados Unidos, todavia, a eleição de Trump foi
ao mesmo tempo, o impulso desta nova onda de autocratas e, o reflexo do
afastamento de um liberalismo feroz da União Europeia à custa da desconstrução
do Estado Nação e da cultura nacional de cada país membro, que surgiu na
senda da globalização da OMC, tendo vindo a juntar-se o novo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
A crise de identidade nacional, que afeta inúmeros países, tem sido o discurso utilizado
pelos líderes de governos autocráticos e musculados, como Vladimir Putin da Rússia, mas também de Xi Ji Ping da China, Recep Erdogan da Turquia, Rodrigo Duterte nas
Filipinas, Viktor Orbán da Hungria, Jaroslaw Kaczynsky da Polónia, entre
outros líderes populistas e autoritários, que têm resgatado o discurso
nacionalista em detrimento da globalização, e um discurso e prática autoritária
em nome da segurança e da justiça contra o crime e a corrupção. A todos estes
podemos juntar os de esquerda, como Nicolas Maduro e Daniel Ortega da Nicarágua
e claro, Kim Jong-un da Coreia do Norte.
O que favorece aos políticos que entram pela via
democrática ou pseudodemocrática, é uma juventude em crise, desligada dos
valores democráticos que foram o marco do Pós-Guerra, uma população adulta
descrente do atual modelo liberal vigente e, por consequência ou vota nos novos
caudilhos, abstêm-se ou por fim opta por votar numa esquerda perdida num pântano sem
saber o que fazer e para onde ir, desde a queda do muro de Berlim em 1990.
No fundo, foi o modelo europeu de democracia, que ficou posto
em causa, sobretudo o modelo surgido no pós-unificação alemã, que alavancou o
liberalismo económico, retirou a importância da soberania dos Estados membros,
criou uma crise identitária que se reflete também nas manifestações em França,
e no Brexit, cujo povo britânico preferiu abandonar a Europa do que perder a
sua identidade cultural e independência económica.
Autor Filipe de Freitas Leal