A
atualidade política está enriquecida por novas discussões, que outrora eram de
todo impensáveis, entre os mais novos temas de debate, tem sido cada vez mais
discutida de forma visível a eutanásia, que é também a que se revela um dos
maiores dilemas, entre a vida e a morte, entre os valores morais e éticos.
No
passado, em que a medicina não era claramente capaz de subtrair o sofrimento
humano, a morte era quase sempre sofrida e dolorosa, a esmagadora maioria das
pessoas morriam em casa, e a velhice muitas vezes não ultrapassava os 60 anos,
inclusive, a alternativa para o sofrimento insuportável, era sem dúvida o
suicídio, que apesar de tudo era socialmente condenável, suicidaram-se por
motivos de saúde o poeta português Antero de Quental e o escritor estadunidense
Ernest Hemingway; hoje ao contrário, a medicina conquistou avanços
substanciais no que concerne a permitir um melhor conforto no fim de vida, os
cuidados paliativos tornaram-se mais eficazes, mas também a medicina preventiva
e os avanços tecnológicos permitiram uma maior longevidade às gerações mais
recentes, portanto, é aqui que reside a contradição deste novo discurso de ordem "Pró-Eutanásia", porque é que precisamente agora em que os cuidados e o acesso à medicina evoluíram, que se procura legalizar e normalizar a eutanásia e o suicídio assistido?
O
debate promete ser em todo o lado, aceso, até porque uma das parcelas que mais
tem crescido na pirâmide populacional é a população idosa, acima dos 65 anos,
que fazem parte da chamada terceira idade, mas também há cada vez mais, e em
boas condições de saúde, a quarta idade, que é composta por pessoas acima dos
85 anos de idade, claro que em ambos os casos a população feminina é
maioritária, porque a mortalidade é maior nos homens do que nas mulheres;
demografia à parte, o importante é que se trata de uma parte da população que é
eleitora e tem uma resposta a dar, não se trata mais de serem os filhos ou os
netos a decidir por eles em caso de referendo, assim os prós do lado dos que
sofrem na doença e as razões contrárias do lado dos valores morais e éticos,
são debatidos apaixonadamente por muitos, mas ainda assim, são evitados por uma
esmagadora maioria silenciosa. Será esta uma nova moda, podemos considerar que seja um
discurso ou pensamento humanista?
Posta
a questão introdutória acima, o tema da Eutanásia é sobremaneira um tema
político, todavia, não se pode deixar que caia nas malhas do discurso
ideológico, que se torne um assunto sequestrado por correntes partidárias,
porque isso retira todo o sentido da sua importância no espaço público, não se
é de esquerda ou de direita porque se está a favor ou contra a eutanásia, não
se é progressista ou conservador porque se defende o suicídio assistido ou a
proibição da eutanásia, este tipo de temas que inclui valores morais como o
aborto ou a mudança de sexo, não cabem na limitada compreensão dos jogos
político-partidários.
Ver
a eutanásia como panaceia não nos deve impedir de compreender que se trata de
mais uma forma de violência, tal como é violento o tiro de misericórdia, como é
violenta a palmada que a parteira desfere no bebé recém-nascido, tal como é violenta a dor e a doença
que consomem o ser que padece, tal como é violenta a cultura de massas, como
são violentas as noticias que mostram como natural a violência da guerra, da
fome, como são violentos os meios de comunicação que impõe a cultura da
violência, mas também é muito violenta a sociedade que reduz tudo a números de
estatística com discursos de eficácia e eficiência, tornando obsoletos os que já não
produzem, os que já não fazem falta, os que já por vezes nem podem se defender
ou dizer que não (os idosos acamados, os doentes terminais, os tetraplégicos).
Assim, podemos aferir por analogia que Stephen Hawking teria uma palavra
a dizer contra a eutanásia, reforçando com o exemplo de vida de Nick Vujicic, um palestrante jovem que nasceu sem pernas e sem braços, todavia tornou-se psicólogo motivacional.
Assim, é importante que
vejamos que a par de melhorias tecnológicas, económicas, financeiras,
cientificas e sociais, tem-se sentido um aumento de um discurso
redutor e pouco claro, mas que contém na sua génese uma filosofia de mudança de paradigma
social, que por um lado fala abertamente de direitos, mas por outro esconde o
que está por trás, resta perguntar, quem iria faturar e ganhar com a eutanásia?
sabendo que hoje os doentes terminais e os idosos custam ao Estado uma boa fatia da Despesa Pública
com gastos de saúde, pensões e demais apoios sociais.
Autor: Filipe de Freitas Leal
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Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.