O
Trabalho de Campo, é uma ferramenta importante na didática da Sociologia
Aplicada, onde pomos em prática a nossa capacidade de análise e observação de
realidade social, humana, urbana e cultural de todo o conjunto circundante, ou
por outras palavras é estudar na prática o que se aprendeu na teoria, é
apreender o conjunto da realidade e aspetos sociais, que fazem parte de um todo
sociológico.
O
estudo de Campo realizado no fim de tarde de 3 de junho de 2011, com a turma do
Primeiro Ano de Serviço Social – Pós Laboral do ISCSP-UTL, e na companhia
da Professora Doutora Sónia Frias e do Professor
Doutor João Cruz, desenvolveu-se na zona envolvente que ia da Avenida da
Liberdade, passando pelo Rossio, pelo Largo de São Domingos onde se aglomeram
vários imigrantes de diferentes comunidades, para um ponto de encontro,
passando também pelo Martim Moniz e culminando na Mouraria.
Análise
da Observação
O
trabalho de campo consistiu na realização da observação em grupo, (no total 10
pessoas, 8 alunos (as) e dois docentes, já acima referidos), desenvolvido na
área geográfica que vai da Avenida da Liberdade até ao Martim Moniz, como objetivo
a observação da realidade, como material o papel e a caneta e muita atenção,
sobretudo atenção às pessoas, à urbanização e à cultura que de daí se origina e
nos circunda constantemente.
Por
outras palavras foi o primeiro contacto com a prática da Sociologia Aplicada,
vivendo na rua e na observação o que já havia sido ensinado em sala de aula.
As Pessoas
As Pessoas
Numa
primeira impressão viam-se os turistas na Rua das Portas de Santo Antão, a
beber ginjinhas, esplanadas repletas de comensais tranquilos, olhares apáticos
como se o Mundo fosse o que realmente cada um sente em si, filas para ir ao
Teatro, casais de mãos dadas, roupas de marca, sorrisos, crianças, tudo isso
dava-nos a ilusão de um mundo à parte, tranquilo, sereno, alegre. Mas destoava
com o que mesmo ao lado se via outro mundo outra realidade.
Uma
Romena a vender o “Borda-d’água”, pensos e talvez algo mais, mais adiante um
Mendigo alcoolizado consumindo vinho em embalagem da Tetra-pack.
No
Rossio viam-se os “tesos” a protestar contra o FMI, no largo de São Domingos,
lá estavam os “okupas” à procura de público para a assistência, tapavam com a
presença o memorial às vítimas do Pogrom de Lisboa em 1506, página triste da
nossa história trágica em que a intolerância e o preconceito eram o “pão-nosso
de cada dia”.
Africanos
viam-se tranquilos, dialogando entre si, num mundo só seu, como se fossemos
todos transparentes, como se não nos quiséssemos ver uns aos outros, talvez até
alguns sejam assim, não querer ver que o outro está mesmo ao nosso lado, que
fazemos parte do mesmo mundo, mas enfim continuavam lá, reunidos à mistura com
turistas, no Rossio via-se a banca de jornais e revistas dos indianos.
Mas
as ruas não são todas do mesmo nome, da mesma maneira que parecem ser até de
países e de mundos diferentes, sente-se o cheiro nas ruas e quase que se pode
perceber onde é uma casa portuguesa, onde é africana e onde é Bengali só pelo
cheiro da cozinha que de lá se sente, sim muitos bengalis, e restaurantes de
comida típica do Bangladesh, pessoas sorridentes, pessoas iguais e diferentes,
mas sobretudo o respeito é acima de tudo o que mais impressiona. O respeito é o
que nos marca, são todos diferentes, somos todos iguais numa cidade que já não
é só nossa, é sim de todos nós.
Pelas
ruelas da Mouraria as donas de casa já idosas, punham a porta o saco de lixo de
um dia de lida, corpos cansados, olhares cansados, serenos, pesados, nas mesmas
ruelas a comunidade africana marca a presença com o som, marca-nos a atenção
que destoa na cor e no tom, tão curiosos como nós, tão atentos, tanta era a
vontade de ser aceites, e também de nos aceitar-mos mutuamente, sorrisos
abertos, vozes sonantes, África, aliás era o “Cabaz de África dos PALOP” comida
apimentada
O
fator urbano
O
aspeto urbano é variado, da Avenida da Liberdade como uma grande metrópole
desenvolvida e a beleza dos seus passeios e edifícios dos séculos XIX e XX, o
Hotel Palace com a sua exuberância, os Restauradores, sensivelmente bem cuidado
e limpo
No
Martim Moniz e na Mouraria, viam-se grafittis, um dos grafittis estava escrito
"Okupas", em algumas janelas viam-se anuncios para alugar quartos,
nas paredes cartazes a informar que "Gatinho Perdeu-se", os
apartamentos do rés do chão tinham portas baixas, verdes e davam diretamente
para a cozinha, onde uma familia com a porta aberta podia ser vista na hora do
jantar, com os filhos pequenos.
O
espaço urbano em alguns locais é degradado, vandalizado, janelas com vidros
partidos, casas devolutas com tijolos nas portas e janelas, ruas estreitas,
tipicamente de uma Lisboa cada vez mais velha no tempo, onde se entre-cruzam
dois mundos, várias culturas, história, tempos, VIDAS!
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