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sexta-feira, 3 de março de 2017

A Política Internacional e a Globalização - Uma Introdução Sintética

A Nova Ordem Mundial, que tanto se fala, traduz-se num crescente aumento da influência do comercio externo e da economia sobre a politica. É o virar de uma página da história política, no que concerne ao mercantilismo e ao capitalismo de Estado ou mesmo ao regime comunista.
Quando surgiu a Globalização? A esta pergunta, poderíamos ir buscar uma série de antecedentes históricos, que nos levariam sem duvida aos descobrimentos marítimos portugueses dos séculos XIV e XV, não obstante, foram os portugueses os primeiros navegadores a chegar ao Japão, desse contacto surgem as primeiras armas de fogo no extremo-oriente, Nagazaki havia sido construída por missionários jesuítas portugueses, e até mesmo a palavra “arigatô” vem do termo português “obrigado”. Sem falar na troca global de plantas que foram tiradas de um continente e plantadas noutro, tal como a mandioca, o principal alimento da dieta africana, foi levado pelos portugueses do Brasil para África, bem como o milho e a batata que não existiam na dieta europeia.
Mais dramática e igualmente influente, foi a migração forçada de milhares de africanos comprados e levados como escravos pelos ingleses, franceses, espanhóis e portugueses para a agricultura em todo o continente americano ou o denominado Novo Mundo, facto que é de suma importância, devido a isso, hoje observamos que a população do Haiti é maioritariamente afrodescendente, em detrimento das populações indígenas que foram assimiladas e miscigenadas tanto com os escravos como com os colonos.
No que concerne à globalização, temos que ter em conta a crescente influencia desse processo no aspeto cultural, cada vez mais os povos se aproximam culturalmente uns dos outros, e isso origina-se com o surgimento de sociedades multiculturais, que obviamente surgiram no novo mundo, muito embora com algumas bolsas de resistência com comportamentos de racismo e xenofobia.
Um dos países onde melhor se definiu o multiculturalismo, foi sem dúvida o Brasil, país no qual não houve o racismo de forma clara ou institucional, como ocorreu por exemplo nos Estados Unidos da América, no Brasil as questões de divisão são maioritariamente de classe e não tanto de etnia.
Nos anos 30 do século XX no Brasil, a pergunta de ordem era saber quem eram de facto os verdadeiros brasileiros. Seriam os índios que eram os habitantes autóctones, os portugueses que criaram os Brasil e deixaram as bases das suas estruturas sociais, culturais, religiosas e políticas, ou seria ainda os afrodescendentes a quem a economia fundamentalmente agrícola e pecuarista do Brasil devia muito pelo seu trabalho braçal? Foi o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre quem com o seu livro, “Casa Grande e Senzala”, vem mostrar que todos os três elementos humanos fundadores do que se chama de brasilidade, são igualmente importantes e autênticos brasileiros, esta reposta agradou sobremaneira ao Presidente Getúlio Vargas e ao renascido nacionalismo brasileiro. 
Todavia, a globalização não se centra nos aspetos culturais, esses são mera consequência dos objetivos fundamentais, que são económicos, fundam-se no comércio externo, na internacionalização das empresas multinacionais e na busca do lucro.
Outros autores como AlvinToffler, vêm a origem da globalização no desenvolvimento da sociedade de serviços ultrapassando a industrial nos anos 50, a nova sociedade da informação e o desenvolvimento tecnológico terão facilitado a comunicação e encurtado as distâncias, isso permite o desenvolvimento consecutivo do comercio externo.
A partir daqui surge o desenvolvimento de grandes conglomerados dos Blocos económicos, inicialmente com a EFTA e a CECA, esta ultima viria a dar lugar à CEE atual União Europeia, no bloco comunista criara-se o COMECOM, entretanto extinto, mais recentemente surgiram a ASEAN, o Mercosul e a NAFTA, mas o mais importante é a criação da Organização Mundial do Comércio, a partir do que foram as conversações do Uruguai Round, da antigo GATT. Acordo Geral sobre Tarifas e Impostos.
Para ilustrar o que é e como funciona a globalização, temos de citar a intervenção do FMI Fundo Monetário Internacional ao determinar a internacionalização do Dólar estadunidense como moeda franca a nível internacional no pós-guerra, sem falar da moeda única na Europa, o Euro que se tornou mais forte do que o dólar apesar da instabilidade económica na Zona Euro.
Alguns dos ícones da globalização são sem sombra de dúvida as parabólicas de TV Satélite, os cabos submarinos de transmissão de Internet e as agências de viagens repletas de descontos em passagens aéreas, o mundo hoje está mais próximo por meios de comunicação e pela rapidez na deslocação de um continente a outro como nunca antes se imaginara. Mas esta é a parte visível da globalização, parece que à partida fora feito de propósito para deixar feliz o consumidor final, mas não, essa é a ponta do Iceberg, a raiz de tudo isto, está no lucro, na vinculação ideológica do liberalismo vigente e nas grandes transações financeiras a nível global, de holdings gigantescas que fazem das Bolsas de Valores o principal ícone da globalização. Não obstante à medida que se desenvolve a globalização no plano financeiro e económico, também se desenvolve no plano político, todavia de forma inversa ao modo como a política até aos meados do século XX funcionava, para exemplificar, tivemos o Crash de 1929 e a sua solução através do New Deal, a política de então é que determinava as regras do jogo económico, todavia, atualmente são os mercados que determinam as politicas a tomar, os países passam a ser vistos como empresas. A eleição nos Estados Unidos, do magnata Donald Trump para suceder o democrata e progressistas Barack Obama, serve de exemplo para este dado, um homem que não vem da política como carreira, mas antes um empresário multimilionário, de tendência claramente conservadora e neoliberal.
Principais Características da “Aldeia Global”
Ø Internacionalização das empresas;
Ø Internacionalização do mercado de capitais;
Ø Organização de Grande Blocos Económicos;
ü Perda de parte da soberania dos países em favor dos Blocos Económicos.
Ø Criação da Moeda Única;
Ø Dólar como moeda franca internacional;
Ø Criação Organização Mundial do Comércio;
ü Consolidação do liberalismo político;
ü Redução dos direitos sociais
Ø Maior competitividade entre os continentes;
Ø Maior aproximação cultural e ideológica global;
·    Maior facilidade de deslocação;
·    Acesso à informação e comunicação;
·    Maior uniformização cultural;
A Globalização submete o papel do Estado (antes um regulador) aos interesses dos grandes conglomerados económicos e financeiros (antes meros agentes), fazendo com que os Estado perca parte da sua soberania, dando a impressão que as instituições democráticas são hoje em dia uma mera plataforma de implementação dos interesses financeiros por parte tanto dos três poderes.
Observa-se atualmente na globalização uma inegável presença do ideal neoliberal, claramente com o intuito de retirar ao poder político o seu papel regulador do mercado, para ser o mero regulamentador da agenda económica e financeira, retirando ao Estado a sua presença em setores como a banca, os transportes públicos, as comunicações, correios, saúde, educação, energia e saneamento básico.
Posto isto, observa-se ainda que as reformas liberais levadas a cabo, refletem uma clara interferência no mercado de trabalho, através de imposição de alterações à legislação laboral, fragilizando em larga medida a já frágil situação dos trabalhadores, tanto nos países desenvolvidos como nos que se encontram em desenvolvimento, bem como pela redução dos ordenados no mercado de trabalho e o fim dos apoios sociais.
A soma deste quadro no que concerne à globalização corrobora as graves consequências sociais que têm surgido, tais como o desemprego de longa duração, a emigração, o empobrecimento das faixas mais idosas da população e o consequente agravamento da insustentabilidade da segurança social, que choca com o apoio estatal à banca falida, através de dinheiro público saído do bolso dos contribuintes nos países da Zona Euro, como foi o caso de Portugal Irlanda, Grécia e Espanha, os denominados PIGS.

Autor: Filipe de Freitas Leal


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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

 
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