As
letras de intervenção que enriqueceram muito a música popular
portuguesa nos anos 60 e 70 do Século XX, têm um exemplo digno de
ser aqui referido, trata-se de Café, interpretada por Fernando Tordo
e com Letra de Art dos Santos, que data de 1973, um ano antes do 25
de Abril.
Chegam
uns meninos de mota,
Com
a china na bota e o papá na algibeira.
São
pescada marmota que não vende na lota,
Que
apodrece no tempo e não cheira,
Porque
o tempo,
É
a derrota.
Chegam
criaturas fatais,
Muito
intelectuais tal como a fava-rica,
Sabem
sempre demais,
Escrevem
para os jornais com canetas molhadas na bica
E
a inveja (sim! A inveja),
É
quanto fica.
Como
quem está num chá dançante,
Dos
velhos de penante, que depenicam uma intriga,
Debicando
bolinhos vários,
Dizem
mal dos operarios,
Que
são a especie inimiga.
Chegam
depois boas maneiras
Com
aneis e pulseiras e sapatos de salto,
São
as bichas matreiras, que só dizem asneiras,
São
rapazes pescados do alto,
E
o que resta,
É
pó de talco.
Chegam
depois os vagabundos
Que
por falta de fundos não ocupam a mesa,
Têm
olhos profundos vão atrás de outros mundos,
Que
pagaram com sonho e beleza
Mas
o troco,
É
a pobreza.
Chegam
finalmente os cantores,
Os
que fazem as flores deste mundo de gente,
São
os modernos trovadores que adormecem as dores
Numa
bica bem quente.
Autor Filipe de Freitas Leal
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Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.