Gilberto Freyre, sociólogo antropólogo,
ensaísta, escritor e pintor, nasceu na capital do Estado
do Pernambuco, Recife, precisamente no último ano do século XIX, 1900, fou numa família de ascendência portuguesa, veio
a falecer na mesma cidade em 1987; Em criança recusava-se a aprender a ler,
apenas desenhava, quase que compulsivamente, fazendo do desenho a sua
linguagem, a sua expressão e o modo como compreendia o mundo à sua volta; Após
receber a visita de um professor inglês, ingressa na Escola Americana Batista
de Pernambuco com oito anos de idade, e muito mais tarde frequentou os estudos superiores na
Universidade de Colúmbia nos Estados Unidos, onde conheceu Franz
Boas antropólogo estadunidense de origem judaica, que influenciara
Freyre no estudo da antropologia, muito embora Freyre tenha sido conhecido mais como um dos pais da
sociologia brasileira, e do movimento modernista da década de 20 do
século XX.
Gilberto Freyre, em 1933 escreve o livro que sem duvida seria a sua maior obra
prima, obra incontornável para a sociologia e antropologia brasileira
de modo incomparável; Tendo em conta o que estava em questão na altura, que era a de saber definir a identidade do povo brasileiro, ou seja era saber na formação na
nação brasileira, quem seria brasileiro de facto, e neste sentido, a contribuição do
pensamento de Freyre veio responder a esta questão, de quais os povos
ou etnias que formavam a multiplicidade cultural do Brasil, seria a que
verdadeiramente pudesse ser chamada de brasileira. Claro está que por trás
desta preocupação,que vinha já do tempo da independência do Brasil face à antiga metrópole colonial portuguesa em 1822,
e que se agudizara com o fim da escravidão, iniciada com as leis
abolicionistas, tais como a Lei do Ventre
Livre de 1871 e depois a Lei Áurea a 13
de maio de 1888 promovida pela Princesa Isabel, que
como consequência trouxe a revolta dos fazendeiros ricos e o derrube
da monarquia em 1889, levando D. Pedro II para o exílio em França com
toda a corte brasileira.
Há
no entanto um dado que deve ser tido em conta, trata-se do Regime do Estado
Novo, e do governo de Getúlio Vargas, de cariz social-fascista, cujas
preocupações seriam a de criar uma Nação forte e próspera, mas para o qual
faltava-lhe a tal identidade, sem a qual não seria possível, a
resposta que Gilberto Freyre trouxe com o seu livro. "Casa Grande
& Senzala" serviu como uma luva, e aglutinou em toda a
sociedade brasileira, a consciência que formava com sucesso, a primeira grande
nação multicultural do mundo.
Gilberto Freyre, afirmava que o que deveras é o brasileiro, é todo o
conjunto étnico e cultural dos seus elementos formadores,
o indígena o colonizador português e o escravo negro, estes três
grupos étnicos formam a primeira grande nação multicultural do Mundo, muito
antes de países como os EUA, Canadá ou Austrália entre outros, foi o Brasil o
pioneiro como uma grande nação multicultural e de integração de novas culturas
vindas de vagas de emigração da Europa do Leste e da Ásia.
Gilberto
Freyre afirma em seu livro que o que permitiu ao Brasil, ser essa mescla morena
de povos, foi o modo como os portugueses colonizaram o Brasil, mantendo-o unido
e por não terem tido como os espanhóis franceses e sobretudo os
ingleses uma noção etnocêntrica de superioridade racial sobre o
nativo, o que permitiu o cruzamento dos portugueses com outros
grupos étnicos, até como forma de povoar o vasto território do Brasil,
algo que é retratado na literatura como por exemplo o romance Iracema de José
de Alencar, ou ainda na numismática (na figura à esquerda) com a nota de
quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) em circulação nos anos 70, onde se perfilam
todas as etnias brasileiras, formadas por essa riquíssima mescla.
Os ingleses evitavam o cruzamento com mulheres de outros
povos, os portugueses não, tendo por isso criado os mestiços, caboclo
(miscigenação étnica entre português e indígena do cafuso
(miscigenação entre as etnias negra com índigena) e do mulato, que é a
miscigenação das etnias portuguesa e negra), e após a independência tendo
se iniciado a imigração no Brasil, com a vinda de outros povos, tais como os
japoneses, acentuou-se a miscigenação, surgindo cruzamentos entre
os recém chegados asiáticos com a população brasileira.
A maneira como Gilberto Freyre resolve esta questão cultural, é como a
descoberta da pólvora para mudar o Brasil, é inclusive algo que promove a
unidade nacional, sob os aplausos do regime de Getúlio Vargas, a
imprensa expande a notícia por todo o Brasil, o livro faz escola, e Gilberto é
consagrado como um dos maiores sociólogos brasileiros reconhecido a nível
mundial.
O Titulo da sua obra é baseada na organização social e económica brasileira no
tempo da formação e sobretudo da colonização portuguesa, Casa Grande é a casa
do colonizador português e a Senzala o lugar onde vivem os escravos
outro elemento formador da brasilidade. E esse conjunto reproduz a filosofia da
época de uma sociedade agricola, patriarcal, católica.
Claro está que o mundo mudou, a sociologia mudou com o Mundo, e sobretudo os
regimes politicos brasileiros mudaram, sendo que hoje há uma certa tendencia da
sociologia brasileira ligada aos movimentos de esquerda ou a movimentos negros,
criticam a obra de Freyre.
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O sociólogo brasileiro Gilberto Freyre |
Certo é no entanto, com ou sem criticas, que a sua obra, por mais erros que
possa ter, trouxe no fundo ao Brasil do seu tempo, a resposta que precisava
para se lançar como um projeto nacional, tendo trazido um grande contributo que
no fundo é mais democrático do que parece, pois para Gilberto Freyre todos são
brasileiros sem distinção, o indígena o português, o negro, mas
também os diversos imigrantes que foram formar o arco-íris da
brasilidade, que se reflete na cultura, desde a gastronomia à linguagem, bem
como no modo de pensar e ser do povo brasileiro, e também na sua organização
social e política.
Para além de Casa Grande e
Senzala (1933), Freyre
escreveu ainda, Nordeste ( 1937), O Mundo que o português criou (1940), Problemas Brasileiros de
Antropologia (1943), Sociologia (1945) Ordem e Progresso (1957) obra esta que lembra o ideal
positivista de Augusto Comte, e ainda, Brasis,
Brasil e Brasília(1968) um estudo sociológico e antropológico do
Brasil.
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Referências Bibliográficas.
Gilberto Freyre. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto
Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-03]
Vários Autores. (2007) Sociologia
Ensino Médio. SEED, Paraná, Brasil, pgs 53-55.
Gilberto Freyre. (2007) Casa Grande
& Senzala. Ed. Record, Rio de Janeiro, Brasil.
Cláudia Castelo. (2011) Uma Incursão no
Lusotropicalismo de Gilberto Freyre. IICT, Lisboa
Autor do blog Filipe de Freitas Leal
Sobre o Autor
Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.