domingo, 5 de agosto de 2018

Os Valores e o valor da vida na atualidade


Os valores são fundamentalmente, o alicerce cultural de um povo e de uma civilização, pelo que de igual modo, esses valores que também estão relacionados com os princípios, usos, costumes e tradições, são flexíveis e modificam-se no tempo, de geração em geração e no espaço, variando entre continentes e países.

Durante milénios, a evolução técnica da humanidade foi muito lenta, nomeadamente nas regiões abaixo da linha do Equador, onde as populações locais, salvo raras exceções, encontravam-se ainda num estágio igual ao “neolítico” à altura dos descobrimentos europeus (portugueses, espanhóis, ingleses e franceses), inclusive, no que foi o berço da civilização ocidental e da hegemonia europeia, (que emana diretamente da civilização judaico-cristã), a evolução das técnicas era algo moroso e o progresso cientifico, como o entendemos hoje, demorou a chegar.

Foi preciso chegarmos ao fim do século XVIII, para que tudo se alterasse, tal como sugere Alvin Toffler nos seus livros, “A Terceira Vaga” e o “Choque do Futuro”, no qual foi substituída a Revolução Agrícola (primeira vaga) pela Revolução Industrial (segunda vaga), provocando mudanças estruturais drásticas, tanto na organização social como familiar, com essas mudanças, as famílias alargadas deram espaço às famílias nucleares, de pai, mãe e filhos, e modificaram drasticamente o 'modus vivendi', a solidariedade típica da família alargada, deu lugar à competitividade dentro da fábrica; o êxodo rural do campo para a cidade, deu lugar a uma massa de operários formada por hordas de deserdados do campo, que se tornaram migrantes que tiveram de abandonar as suas raízes, deixando para trás a sua terra natal e os laços familiares.

Essa realidade foi acompanhada por um alto índice de acidentes laborais e de mortalidade prematura devido às más condições de vida, e não raras vezes o desespero levava a que algumas pessoas pusessem termo à própria vida, como relatado em "O Suicídio" estudo sociológico de Émile Durkheim, dando lugar a uma enorme massa de órfãos, que serviam para mão de obra barata nas fábricas nascentes, era esse o valor da vida, e deram à nova sociedade do industrialismo o matiz cinzento que perdurou até ao fim da primeira metade do século XX, que John Kennett Galbrith bem descreve no seu livro, “A Era da Incerteza”.

Estávamos num mundo politicamente dominado pela civilização ocidental do eixo Europa e Estados Unidos da América, com uma mentalidade conservadora, assente no cristianismo, por um lado do catolicismo nos países latinos e do protestantismo nos países anglo-saxónicos e nórdicos, onde os valores e os princípios estavam ligados à teologia e à inegável influencia da Religião na economia e na política. Mas onde à exceção da Pena de Morte, o aborto, o adultério, o divorcio eram condenados e onde a homossexualidade era reprimida, bem como o papel da mulher fora relegado a um lugar secundário desde o apogeu da Revolução Industrial e só nos meados do século passado conquistou paulatinamente o seu lugar na sociedade (à exceção dos países muçulmanos).

O período que vai de meados do século XIX ao inicio do século XX, deu lugar ao movimento sindicalista de Karl Marx e ao Manifesto do Partido Comunista, a um conjunto de perturbações politicas e crises sociais; pelo meio o  Papa Leão XIII redige a encíclica, 'Rerum Novarum' revelando a posição da Igreja sobre a questão social e laboral da época, à luz dos valores bíblicos; por fim, surgem as revoltas do proletariado que deram origem em 1917 ao Regime Comunista soviético, mas até nesses regimes os valores eram conservadores, a vida valia pouco (entre 1922 e 1952 foram mortos no regime Estalinista cerca de 14 milhões de pessoas) pelo que só mudava a terminologia. Mas o mais visível e  bárbaro exemplo do valor da vida foi sem sombra de dúvida o Holocausto do III Reich, do regime nazista, onde foram mortos 6 milhões de judeus em campos de concentração e câmaras de gás espalhados pela Europa durante a Segunda Grande Guerra; o que se valorizava era humilhar e infligir dor e sofrimento ao seu semelhante, revelando que a vida do 'outro' pela sua diferença não teria qualquer valor. 

Com o fim da II Guerra Mundial e a derrota do ideal nazi-fascista da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, bem como as novas tecnologias que vinham sendo desenvolvidas na área das comunicações, alteram a pouco e pouco os valores, os usos e os costumes, mas também altera-se o modo como os empresários, economistas e políticos vêm e exercem a sua função, porque antes de serem empresários e políticos, são gente da sua nação, antes de tudo são pessoas e cidadãos, que levam para o poder, para os negócios e para a academia, os valores da sua época, por vezes mais fortes que os seus ideias, mas quase nunca, tão fortes quanto a sua crença.

Um das mudanças, foi sem dúvida a crescente influencia da opinião pública nos destinos do país, a crescente influência dos serviços na economia face à indústria que se viu suplantada em 1955 e à crescente influencia das comunicações e da informação na nova economia global, por forma a fazer face às necessidades geopolíticas.

A nova ordem nascida dos escombros da II Guerra Mundial, deu a primazia dos Direitos Humanos, abrindo espaço para a autodeterminação dos povos, para a posterior revolução sexual, e para mudanças bruscas na sociedade, as mulheres conquistam paulatinamente a igualdade (embora mantenham-se nos países desenvolvidos graves diferenças salariais absurdas até aos dias de hoje), alguns anos mais tarde, surgiria a revolta estudantil do Maio de 68 em França, uma revolução sem programas, em que na verdade era uma revolta contra a cultura vigente, não foi uma revolta para derrubar o regime político. Mas muitos dos valores que só mais de 20 ou 25 anos começaram a surtir na Europa são fruto do descontentamento dessa geração, e nascem dos movimentos hippie, Maio de 68 e da Nova Esquerda que idolatra ainda hoje Che Guevara. Pelo meio houve a revolução tecnológica que apanhou desprevenida a população dos anos 70 e 80 do século passado, ou reciclavam o seu saber técnico ou sucumbiam como inadaptados, acabando por gerar a chamada info-exclusão.  

Com o tempo, e na boca das urnas, a sociedade, foi progredindo, com o Wellfare State, os apoios sociais, a Igreja e a religião de modo geral, foram afastadas da vida politica e civil, serve mais para consolo e embelezamento das cerimónias de matrimónio e funeral do que propriamente de fé. A fé, essa foi relegada para o novo consumismo, o novo-riquismo, e para ideologias que deram espaço a uma enorme e variada série de conquistas, uma após outra, em vários países, como a conquista do Aborto. E é precisamente aqui, que está a contradição do valor da vida.

Em Portugal, no ano de 2007, realizou-se um referendo para a despenalização do aborto, e o discurso manipulador dos que defendiam o Sim, era que que as pessoas que abortassem por serem pobres, não deveriam ser presas, a população votou no Sim, mas não sabia na sua maioria que esse sim, significava na verdade a Liberalização total do aborto, o que é algo bem diferente da despenalização.

O curioso é que uma civilização, que atingiu após muito sofrimento e esforço, o auge da qualidade técnica e da qualidade de vida, onde o Welfare State, conseguiu dar o melhor apoio possível para que uma pessoa seja acolhida e cuidada, tenha chegado hoje no entanto, a preferir dar valor ao fim da vida. Precisamente e de forma antagónica a civilização agrícola não abortava porque precisava de gente para o trabalho, a civilização industrial precisava de força braçal, para as fábricas, e hoje ao contrário, a civilização da informação e das comunicações, dá lugar ao direito à morte, à morte de um feto, ao qual crê ter sobre ele o poder absoluto de decidir a sua vida, à morte pelo suicídio, à morte pela eutanásia, à defesa da pena de morte contra os delinquentes, que aliás são outro fruto das injustiças sociais e das más políticas de defesa e segurança pública (que mais premeiam o lobby da industria das armas nos EUA) e por fim é uma civilização em que o valor da vida, está assente no ter, no parecer e não no ser.

A nova civilização da cultura da Morte é uma civilização cujas catedrais de culto são os centros comerciais para o culto do consumo, e as redes sociais repletas de discursos de praxe, disfarçados de 'Direitos', todavia, desprovidos de deveres, onde se grita sem conhecimento de causa a legalidade da morte em todas as suas formas, sendo que hoje, têm à mão todos os recursos necessários para se responder às necessidade para a vida das pessoas, de grupos e comunidades em situação de crise. Há que pensar que civilização queremos deixar para os nossos filhos e netos, há que definir de facto, os valores, se os do passado não serviram devidamente a dignidade das pessoas, que os novos valores o façam, mas se estamos vivos, e se há um planeta vivo, a nossa opção, politica, económica, social e cultural têm de estar focadas na defesa da vida, e na consciência que a solidariedade não é um dom de alguns mas um dever de todos, porque o Humanismo é acima de tudo, defender a Vida, e a vida plena.

Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Eutanásia - O Que Está em Causa?

A atualidade política está enriquecida por novas discussões, que outrora eram de todo impensáveis, entre os mais novos temas de debate, tem sido cada vez mais discutida de forma visível a eutanásia, que é também a que se revela um dos maiores dilemas, entre a vida e a morte, entre os valores morais e éticos.
No passado, em que a medicina não era claramente capaz de subtrair o sofrimento humano, a morte era quase sempre sofrida e dolorosa, a esmagadora maioria das pessoas morriam em casa, e a velhice muitas vezes não ultrapassava os 60 anos, inclusive, a alternativa para o sofrimento insuportável, era sem dúvida o suicídio, que apesar de tudo era socialmente condenável, suicidaram-se por motivos de saúde o poeta português Antero de Quental e o escritor estadunidense Ernest Hemingway; hoje ao contrário, a medicina conquistou avanços substanciais no que concerne a permitir um melhor conforto no fim de vida, os cuidados paliativos tornaram-se mais eficazes, mas também a medicina preventiva e os avanços tecnológicos permitiram uma maior longevidade às gerações mais recentes, portanto, é aqui que reside a contradição deste novo discurso de ordem "Pró-Eutanásia", porque é que precisamente agora em que os cuidados e o acesso à medicina evoluíram, que se procura legalizar e normalizar a eutanásia e o suicídio assistido?
O debate promete ser em todo o lado, aceso, até porque uma das parcelas que mais tem crescido na pirâmide populacional é a população idosa, acima dos 65 anos, que fazem parte da chamada terceira idade, mas também há cada vez mais, e em boas condições de saúde, a quarta idade, que é composta por pessoas acima dos 85 anos de idade, claro que em ambos os casos a população feminina é maioritária, porque a mortalidade é maior nos homens do que nas mulheres; demografia à parte, o importante é que se trata de uma parte da população que é eleitora e tem uma resposta a dar, não se trata mais de serem os filhos ou os netos a decidir por eles em caso de referendo, assim os prós do lado dos que sofrem na doença e as razões contrárias do lado dos valores morais e éticos, são debatidos apaixonadamente por muitos, mas ainda assim, são evitados por uma esmagadora maioria silenciosa. Será esta uma nova moda, podemos considerar que seja um discurso ou pensamento humanista?
Posta a questão introdutória acima, o tema da Eutanásia é sobremaneira um tema político, todavia, não se pode deixar que caia nas malhas do discurso ideológico, que se torne um assunto sequestrado por correntes partidárias, porque isso retira todo o sentido da sua importância no espaço público, não se é de esquerda ou de direita porque se está a favor ou contra a eutanásia, não se é progressista ou conservador porque se defende o suicídio assistido ou a proibição da eutanásia, este tipo de temas que inclui valores morais como o aborto ou a mudança de sexo, não cabem na limitada compreensão dos jogos político-partidários.
Ver a eutanásia como panaceia não nos deve impedir de compreender que se trata de mais uma forma de violência, tal como é violento o tiro de misericórdia, como é violenta a palmada que a parteira desfere no bebé recém-nascido, tal como é violenta a dor e a doença que consomem o ser que padece, tal como é violenta a cultura de massas, como são violentas as noticias que mostram como natural a violência da guerra, da fome, como são violentos os meios de comunicação que impõe a cultura da violência, mas também é muito violenta a sociedade que reduz tudo a números de estatística com discursos de eficácia e eficiência, tornando obsoletos os que já não produzem, os que já não fazem falta, os que já por vezes nem podem se defender ou dizer que não (os idosos acamados, os doentes terminais, os tetraplégicos). Assim, podemos aferir por analogia que Stephen Hawking teria uma palavra a dizer contra a eutanásia, reforçando com o exemplo de vida de Nick Vujicic, um palestrante jovem que nasceu sem pernas e sem braços, todavia tornou-se psicólogo motivacional.

Assim, é importante que vejamos que a par de melhorias tecnológicas, económicas, financeiras, cientificas e sociais, tem-se sentido um aumento de um discurso redutor e pouco claro, mas que contém na sua génese uma filosofia de mudança de paradigma social, que por um lado fala abertamente de direitos, mas por outro esconde o que está por trás, resta perguntar, quem iria faturar e ganhar com a eutanásia? sabendo que hoje os doentes terminais e os idosos custam ao Estado uma boa fatia da Despesa Pública com gastos de saúde, pensões e demais apoios sociais.


Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Os 50 anos do Maio de 68

Passam 50 anos após o movimento estudantil que parou a França e pôs em causa o Presidente Charles De Gaulle, foi o chamado Maio de 68, que se espalhou pelo mundo inteiro como símbolo de uma nova época, após essa revolta o mundo não seria o mesmo, e a política também não apesar desse avanço, verificaram-se recuos cíclicos, porém a génese do movimento permaneceu e fortaleceu-se.

As consequências do Maio de 68 e da liderança carismática de Daniel Cohn-Bendit, um estudante universitário franco-alemão, nascido no seio de uma família judaica, marcaram a juventude de modo profundo. O movimento que inicialmente era estudantil, iniciado na Universidade de Nanterre, acabou por se transformar num protesto geral por toda a França, com a adesão dos trabalhadores de diversos setores. Mas o que queriam os estudantes? o que reivindicavam os grevistas e o que motivou a restante classe trabalhadora a movimentar-se em protesto contra o Status Quo, apesar de três anos antes ter eleito por larga maioria o General De Gaulle, e seguidamente à revolta, voltaria a dar maioria ao partido no poder? 

Os protestos inicialmente eram uma revolta ao conservadorismo que se vivia nas universidades, influenciados pelos movimentos hippie, pela nova esquerda, pela libertação sexual, pela conquista paulatina da mulher no espaço publico e social, 

Se por um lado, de uma forma genuína e pueril a revolta iniciou-se na Universidade de Nanterre, por uma causa curiosa, que era a proibição de os homens não poderem entrar no quarto das mulheres, mas o contrário era permitido, logo era visto como algo machista, portanto a revolta juvenil em Paris, foi um movimento que não debatia grandes questões sociais, era o proibido proibir, e estava-se apenas numa revolução de teor existencial, estendeu-se aos sindicatos e aos partidos de esquerda, que não trouxe mudanças significativas na estrutura do poder político ou da organização social, mas sim foi palco e tribuna para declarar em alto e bom som, o preâmbulo de uma mudança inequívoca dos valores e princípios, mas também da reivindicação de uma maior abertura do espaço público para a participação cívica de todos aqueles que até então não tinham essa possibilidade. Claro que a longo prazo, viu-se na política a ascensão e a mobilização de classes, por outro lado, essa mudança de valores, não foi devidamente acompanhada pela qualidade técnica, profissional e ética dos novos rostos na política, pelo que paulatinamente viu-se um divórcio cada vez maior entre a sociedade civil e a nova classe política, a braços com escândalos de corrupção ou simplesmente má gestão dos assuntos públicos.


Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

Ataques Terroristas Contra Israel

Desde 2014 que os ataques a Israel não se intensificavam como neste ano, desde o fim de maio, e por consequência do reconhecimento de Jerusalém como legítima Capital de Israel, a revolta palestiniana para reverter o irreversível, foi ter procedido, desde novembro de 2017, a uma nova onda de violência junto à fronteira com Israel atacando as autoridades israelitas, não tendo sido suficiente, surgiu na mesma altura a onda dos cometas incendiários (papagaios e balões) que causaram uma enorme devastação com incêndios em reservas florestais, áreas agrícolas e mesmo em meio urbano, incêndios em prédios dentro das cidades israelitas.

O reconhecimento de Jerusalém por parte dos EUA no governo de Donald Trump, colocou em prática o que há há muito estava previsto, a transferência da Embaixada dos Estados Unidos de Tel-Aviv para Jerusalém, ato que foi seguido por outros países, como a Chéquia, Guatemala, Filipinas, Roménia, Honduras, Togo, entre outros; 

Os Governos ocidentais condenaram os ataques terroristas

Embora costumem demorar muito para reconhecer os ataques, a maioria dos países ocidentais condenou oficialmente os ataques terroristas, devido aos danos ambientais e às vitimas inocentes, como foi o caso da declaração oficial do Parlamento português e do Primeiro Ministro António Costa, sensibilizados pela amplitude dos incêndios causados pelos cometas lançados pelo Hamas. O governo brasileiro também a par de outros países ocidentais colocou-se veementemente contra a ofensiva terrorista,  inclusive porque o reconhecimento de Jerusalém como Capital de Israel não justifica tal agressão, pois na verdade, trata-se do reconhecimento de um facto irreversível, visto que em nada coloca em causa a Independência de um futuro Estado muçulmano na Palestina, A capital é onde se encontra a sede do Poder político, que é por sinal onde estão sediados os três poderes em  Israel, o Presidente, o Governo, o Parlamento e o Supremo Tribunal, logo é efetivamente a capital do Estado de Israel.

A questão agora é saber, se a ofensiva terrorista para por aqui, ou se se irá intensificar uma escalada de violência ainda maior, o conflito já dura há 70 anos, mas o teor ideológico não ajuda nas negociações para um entendimento, nomeadamente dos lideres palestinianos mais radicais, como os do Hamas, cujo programa político não é o entendimento ou a paz, mas antes a extinção do Estado judaico, e cuja ideologia em muito se assemelha ao nazi-fascismo, símbolos que foram usados nos balões e papagaios incendiários lançados pelos terroristas. 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

11 Anos de Vida na Blogosfera

Ao contrário da grande maioria dos blogs, que vive sem publicidade, mas após um ano ou dois desaparece, este blog, mantém-se em atividade, comemorando hoje os 11 anos de existência no mundo da globosfera, tendo sido lançado no dia 12 de julho de 2007.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

O Conflito Israelo-árabe no solo otomano

Recentemente voltou-se a falar do conflito israelo-árabe, sobretudo depois da inauguração da Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, a Capital de Israel, todavia, apesar da informação veiculada nos media, a esmagadora maioria da população mundial, ou desconhece o assunto, ou tem uma ideia enviesada do mesmo. De forma a podermos ter uma visão mais precisa sobre o problema, é necessário recuar no tempo e voltarmos ao Império Otomano, ou talvez ainda devemos recuar um pouco mais no tempo.

O Conflito Israelo-árabe no solo otomano
Quanto ao conflito israelo-árabe, ao qual vários líderes políticos de ambas as partes sentaram-se à mesa para negociar um acordo de paz, podemos dizer que é um conflito de difícil definição, à partida é de Guerra de Guerrilha Urbana, obviamente não é mais uma guerra convencional, como fora em 1948 e em 1967, respetivamente a Guerra da Independência de Israel e a Guerra do Yom Kippur.
As origens deste conflito são anteriores à criação do Estado de Israel, e até mesmo surgiram antes do fim do Império Otomano, quando a Palestina era uma mera província deste, no qual viviam em aparente paz, tanto judeus como árabes, ambos eram palestinianos, na medida que nasceram na província otomana da Palestina, não se tratou nunca de uma etnia ou sequer de uma nação, no entanto os judeus por não serem muçulmanos eram preteridos não ocupando cargos públicos e não podendo ter as melhores terras ou propriedades. Para ilustrarmos, observamos que no final do séc. XIX um grupo de judeus quis comprar vários hectares para poder construir uma cidade sua, o Império Otomano, vendeu-lhes um pântano perto da antiga cidade de Jafa, onde em 1909 tinha sido erigida Tel-Aviv como subúrbio dessa cidade velha, após muito esforço e a morte de mais de um milhar de operários judeus causados pela malária e febre-amarela contraída nos pântanos, entretanto drenados. Hoje Tel-Aviv é a cidade mais moderna, mais desenvolvida e a mais rica de todo o Oriente Médio.
Após o fim da I Guerra Mundial e da consequente desintegração do Império Otomano, as potências europeias dividiram entre si, os despojos deste invejado império, o Líbano e a Síria ficam a ser um protetorado francês, a Palestina, que incluía o que é hoje a Jordânia, juntamente com o Iraque passaram a ser protetorados do Reino Unido. Nessa altura o então Primeiro-ministro britânico Balfour, em consequência do que durante seculos fora o problema da questão judaica, redige uma declaração na qual afirma o direito do povo judeu à autodeterminação, ou seja, o direito a ter a sua própria terra, dando um novo folego ao movimento sionista e à emigração judaica da Europa para a Palestina.
A emigração judaica acentuou-se após a II Guerra Mundial pela migração massiva dos sobreviventes do Holocausto, tendo sido, no entanto, proibida por algum tempo pelas autoridades britânicas na Palestina, devido a isso, alguns barcos ficaram sem poder desembarcar os passageiros, o navio Êxodos, foi um deles, memorizado nas telas do cinema.
Acentuam-se assim, a guerra de guerrilha na Palestina, de um lado os muçulmanos com as forças militares árabes, sendo lideradas por Amin al-Husayni o Mufti de Jerusalém, o mesmo que se havia encontrado com Hitler, a quem lhe pedira a garantia de que os judeus não migrassem para a Palestina, além de defender a ‘Solução Final’ face ao problema judaico, ou seja, o extermínio nos campos de Auschwitz ou Bergen-Belsen entre tantos outros. Por outro lado, os movimentos guerrilheiros israelitas como a Haganáh, o Etzel, o Lechi e o Irgun, tinham atividades paramilitares contra o domínio britânico e as forças militares árabes.
Dos movimentos acima citados, os três primeiros vieram a juntar-se quando foram criadas as IDF forças de defesa de Israel em 1948, o Irgun foi o mais encarniçado movimento terrorista, tendo atacado alvos tanto árabes como britânicos.
Após o Reino Unido abandonar o território, com o fim do Mandato Britânico, sem que tenha dado posse a autoridades israelitas e árabes, de acordo com o estipulado na Partilha da Palestina, tal como previsto na Resolução 181 da ONU, os israelitas proclamam pela voz de David Bem-Gurion a independência de Israel, acenando para o reconhecimento de um Estado Árabe na Palestina, oferecendo a cooperação e a amizade, entretanto, os palestinianos árabes aconselhados por lideres dos países árabes, não aceitaram criar o seu próprio Estado na região, e muito menos, reconhecer o Estado Judaico; A 14 de maio Israel proclamara a independência, no dia 15 era invadido por cinco exércitos árabes, Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque, os mesmos países que aconselharam os palestinianos a não criar um Estado e a abandonar as suas casas, queimando-as bem como aos campos que deixaram para trás, seguindo o conselho dos países que fizeram outrora parte do Império Otomano.
Aqui está a chave da compreensão do problema da Palestina ou do conflito israelo-árabe, cada estado depois de desmembrado o Império Otomano pode existir normal e livremente, desde que governado por fiéis, ou seja, por muçulmanos, o que claramente não é o caso de Israel, que é considerado uma parte do antigo território otomano que passava a ser governado por judeus, ou seja por “infiéis”, esta teoria é corroborada pela Guerra civil do Líbano, tendo rebentado em 1975, quando os muçulmanos rebelaram-se contra os cristãos maronitas que estavam no governo, ora os cristãos ainda que menos odiados que os judeus, não deixam de ser considerados “infiéis” ou “impios” na cultura mais radical da religião islâmica, ou melhor dizendo, o solo do que fora o Império Otomano é sagrado e consagrado apenas aos muçulmanos, nesta perspetiva, qualquer negociação de paz do conflito israelo-árabe torna-se inviável.
No entanto e mesmo tendo conhecimento que a política esbarra incapaz no campo da crença, os esforços para a paz nunca foram abandonados por ambas as partes, sendo que desses acordos destacamos o de Oslo, que envolveu em 1993 o então Presidente estadunidense Bill Clinton, o então Primeiro-ministro israelita Itzaac Rabin e o Presidente da Autoridade Palestiniana Yasser Arafat, este último dera um precioso contributo para a paz, ao renunciar à luta armada em 1988, reconhecendo o direito da existência do Estado de Israel, o que levou ao afastamento do Partido Hammas em seu apoio político, pois trata-se de uma facção da OLP que mantém no seu conteúdo programático o não reconhecimento de Israel como Estado, bem como o objetivo da destruição total de Israel.
Negociações de Paz Israelo-árabe - Acordos de Oslo
·       Fim das hostilidades
·       Retirada das IDF da Faixa de Gaza
·       Criação da Autoridade Palestiniana
·       Retirada de Israel do Sul do Líbano
·       Estatuto de Jerusalém
·       Fim dos Colonatos judaicos na Cisjordânia
Os acordos tinham pontos chaves que eram melindrosos, de tal forma, que apesar de ser possível a retirada de Israel do Sul do Líbano e das IDF da Faixa de Gaza, além de ser criada a Autoridade Palestiniana, não se cumpriu, todavia, o fim das hostilidades pelos movimentos radicais islâmicos; Israel não renuncia a ter Jerusalém como sua capital, tal como Berlim, que fora a Capital da Alemanha Oriental, ainda que dividida; para além de tudo, soma-se à retirada dos colonatos na Cisjordânia, o assassinato de Itzaac Rabin em 1995.
As negociações deste conflito têm tido fases de avanços e recuos, muitos outros acordos têm sido preparados, mas não avançam nos aspectos políticos, devido ao fundamentalismo islâmico do Hammas ou aos colonatos judaicos na Cisjordânia.
Atualmente muito ainda há para se negociar, as principais questões para um acordo, são as seguintes:
·     Estatuto de Jerusalém como capital de Israel;
·     Segurança de Israel e combate ao Terrorismo;
·     Reconhecimento do direito a Israel existir como Estado independente, por parte dos palestinianos e em particular do Hammas.
·     Retirada dos colonatos israelitas na Cisjordânia;
·     Redefinição das Fronteiras para os limites anteriores a 1967 (exigência palestiniana).
Destas questões, muitas delas são de difícil negociação, nomeadamente as questões fronteiriças que Israel não pretende rever, outro é o estatuto de Jerusalém, a cidade santa, que os palestinianos e nem os demais países árabes aceitam, devido a motivações de cariz exclusivamente religioso.

terça-feira, 5 de junho de 2018

O Ónus da Greve dos Ferroviários

Ao contrário do bom senso e da lógica, a greve da CP "Comboios de Portugal", passou para os utentes o ónus da paralisação, prejudicando o país, as empresas e por ultimo, o elo mais fraco que são as pessoas e famílias.
Esta greve não se justifica, há que haver legislação cabível para impedir que os cidadãos fiquem reféns deste tipo de manobras.
Não vale a pena ter consciência de classe, se não se coloca em primeiro plano a "Cidadania Ativa" em prol da coletividade, caso contrário a greve não será justa.
Com a paralisação de ontem, muitos trabalhadores perderam o seu dia de trabalho e com isso, parte do seu ordenado, pessoas doentes não puderam ir a consultas médicas, alunos não puderam estudar, o comércio ficou paralisado, ou seja, quem ficou afetado não foi a direção da CP, quem saiu a perder é quem menos merecia, ou seja, o cidadão comum.
Por fim, resta perguntar, o que é ter consciência de classe? Será que é considerar que se está acima de todas as outras classes profissionais?


Autor: Filipe de Freitas Leal


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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

 
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