segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Novo (Des)Acordo Ortográfico

A discussão do momento, para além da política, da crise económica e do vulgar futebol, é sem dúvida o Novo Acordo Ortográfico, que como já devem ter notado foi adotado por este blog, acompanhando outros tantos sites e blogs na grande rede virtual.
Eu partilho com muitas outras pessoas do seguinte ponto de vista, que é, independentemente de gostar ou não, adoto o Acordo Ortográfico por uma questão de coerência, e é de bradar aos céus notícias que saem a público, nas quais se diz que "a partir de 2015 o governo afirma que não vai policiar a aplicação do Acordo".
Ora isto é no mínimo um demérito para a República, pois o Acordo Ortográfico têm força de lei, ou não tem? E trata-se de um "Tratado Internacional" envolvendo inicialmente sete estados soberanos, Timor é o oitavo (aderiu após a independência em 2002), nesse sentido, quem é que o governo pensa que é, para se recusar a vigiar a aplicação do acordo? Ora, trata-se de leis domésticas a que o estado se obrigou ao ratificar acordos internacionais.

E neste sentido conversando e comungando deste ponto de vista, com uma professora amiga, que acrescentou e bem, "Vejo todos preocupados com o seu incómodo e opinião e muito poucos preocupados com o significado destas declarações. Se o Governo só policia as leis com que concorda ou que lhe interessam, onde fica o nosso Estado de Direito?"
Aliás acrescento ainda, que o acordo não foi feito ontem, demorou mais de 20 anos, e até foi no governo de Cavaco Silva que o acordo foi assinado e foi Portugal quem propôs o acordo, tendo sido solenemente ratificado em Lisboa a 16 de dezembro de 1990, tendo o tempo que passou sido mais que suficiente, no qual deveria ter sido discutido e não o foi, protelou-se negligentemente, como aliás se faz em tudo neste país (e em particular as mesmas pessoas), agora Portugal tem que mostrar que é um país sério, responsável e credível, tendo por isso que praticar o que a Lei manda. O governo também tem que aprender a governar as suas palavras e opções, pois parece que o não sabe fazer de facto.
E concordo com o que referiu a minha amiga na conversa ao afirmar: "Esta atitude de protelar e do "tanto faz", "agora não me dá jeito" e "só assumo das responsabilidades o que me apraz" e "o que importa é o meu umbigo" é que nos levou e mantém onde estamos". E acrescento eu que é por isso que temo muito que continue a contaminar o futuro do país e condenando as gerações vindouras. É caso para dizer Valha-nos Deus.

E lembrou a interlocutora, que em jogo "há as crianças. Todos os manuais foram alterados e andamos a ensinar-lhes um modelo que depois "tanto faz"? Que pedagogia é esta? É a prova cabal da irresponsabilidade, será que não se consegue observar que alterações ortográficas já ocorreram variadas vezes no nosso país ao longo da história, e que também noutras línguas, até o espanhol está a fazer alterações, o italiano tinha feito uma reforma na ortografia, depois acho que um acordo bem feito é sempre melhor para o fortalecimento da CPLP.
A proposta de um acordo para simplificar a língua portuguesa, nasceu ainda na monarquia no ano de 1885, mas não foi avante, com a República, fez-se uma reforma ortográfica com vista a eliminar o analfabetismo e fora  nomeada entre outras figuras Carolina Michaelis primeira professora universitária em Portugal e Cândido Figueiredo, mas deixou-se o Brasil de parte e daí para cá os dois países divergiram  na ortografia, tendo havido sucessivas tentativas de reaproximação, em 1931, 1940 e em 1971 houve conversações com esse fim.
Para os mais jovens, fica aqui a lembrança de que se escrevia desta forma antes de 1911 phosphoro, orthographia, exhausto, estylo e a já famosa pharmacia, além de Brazil, monarchia, portugueza, prohibido, annuncios, como na ilustração acima.
Digo isto sem medo, por crer que ter opinião custa apenas o tempo de se informar, o esforço é recompensado por uma consciência livre e uma cidadania ativa! Para tal temos de exercer o direito à liberdade de expressão, pensamento e associação, pilares fundamentais da Democracia!



Autor Filipe de Freitas Leal


Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas os.

6 comentários:

António Pereira disse...

Também adotei o NAO e procuro divulgá-lo (em http://acordo-ortografico.blogspot.com). Concordo inteiramente com este "post".
Abraço.
António Pereira

Filipe de Freitas Leal disse...

Caro António Pereira,

Muito obrigado pela sua visita e pelo seu comentário, também tive já a oportunidade de visitar o seu blog:
http://acordo-ortografico.blogspot.com e achei muito pertinente e interessante, continue.

Um abraço

Filipe de Freitas Leal

Anónimo disse...

Com esta reforma ortográfica perdeu-se uma enorme oportunidade de uniformizar a ortografia de todos os países lusófonos. Se até aqui havia duas normas ortográficas, agora passou a haver três:
a) A norma brasileira (usada no Brasil);
b) A norma portuguesa pós-acordo (usada em Portugal);
c) A norma luso-africana pré-acordo (usada nos restantes países lusófonos. Angola e Moçambique não ratificaram o AO e os outros apesar de o ratificarem não o aplicam);

Internacionalmente a língua sofreu um enorme abalo com este acordo ortográfico que veio afastar ainda mais a ortografia dos diversos países lusófonos. Lamentável. Se calhar mais valia ter deixado tudo como estava...

Pedro Oliveira Reis

Filipe de Freitas Leal disse...

Caro Pedro Oliveira Reis,

Antes de mais obrigado pela sua contribuição para este debate, com a suas ideias, mas permita-me discordar de si num ponto, que me parece importante debater. Não penso que o acordo tenha trazido um abalo à língua portuguesa, primeiro porque não muda a estrutura da língua, a sua gramática ou a sua riqueza, apenas cinge-se à ortografia e foi proposta por Portugal no governo de Cavaco Silva há mais de 20 anos, segundo um acordo feito entre países é um Acordo Internacional que tem força de lei, o não cumprimento do acordo só desacredita quem não o cumpre. o que faz que países como Angola e Moçambique possam ficar internacionalmente desacreditados, no que se refere a não cumprir tratados internacionais.
Sou um defensor de que os povos da lusofonia se aproximem pela língua, pela cultura, na era das comunicações o acordo ortográfico pode beneficiar a uniformização da língua portuguesa como um todo.

Os meus cumprimentos.

Filipe de Freitas Leal disse...

Após as últimas notícias de que alguns órgãos em Portugal, como Câmaras Municipais e o Centro Cultural de Belém, retiraram dos seus computadores e documentos oficiosos o AO Acordo Ortográfico, faz-me pensar que o tira e põe, e o faz e desfaz em toda a Lusofonia, só nos descredibilizam, ainda por cima trata-se de Um Tratado entre Estados Soberanos, que tem à Luz do Direito Internacional força de Lei.

Hyperião disse...

E qual é mesmo o mal de phosphoro, estylo, annuncio, pharmacia, exhausto, orthographia etc.? É muita areia para o camião dos portugueses de hoje? Que argumento mais batido e sem nexo. Quer que lhe diga como se escrevem essas palavras em inglês, francês e alemão, línguas de países deveras fracos economicamente e sem importâcia mundial?

Acordem para as evidências e tirem os factos a limpo. Este acordo é sucedâneo de um falhado em 1986 e que propunha a abolição da acentuação das esdrúxulas como forma de se pouparem acentos, uma vez que os senhores por detrás do mesmo queriam lançar um dicionário em formato digital e na altura não havia suporte para acentuação! Reformas de carácter legislativo de 50 em 50 anos feitas por 3 amigos de cá e de além-mar não são sinónimo de "evolução da língua"! Até a reforma de 1911 tem água no bico e ideias falsas de "ajudar os pequeninos portugueses analfabetos", mas esta compete ferozmente pelo lugar de maior estupidez alguma vez feita a Portugal. Basicamente o Santana Lopes quis e acordou-se o bicho, e que se lixem todos os pareceres negativos de quem percebe do assunto!

Fiquem bem.

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